sábado, 3 de maio de 2025

O INDÍGENA DE 160 ANOS

 

Imagem IA
Um relato impressionante publicado pelo Correio Paulistano em 1903

Em 1903, o jornal Correio Paulistano publicou um relato surpreendente: um indígena, então residente na Fazenda Barra Grande, afirmava ter 160 anos de idade. O mais impressionante? Ele ainda mantinha suas faculdades mentais intactas e caminhava, diariamente, cerca de oito léguas a pé — o equivalente a quase 40 km.

O indígena era considerado um macróbio — termo usado para designar pessoas com longevidade extraordinária. O relato foi enviado ao jornal pelo senhor Manoel Rodrigues do Prado, de Santo Antônio da Platina, que ouviu a história diretamente do protagonista.

Na época, Santo Antônio da Platina ainda era distrito de Jacarezinho, e a Fazenda Barra Grande ficava onde hoje estão localizados os municípios de Guapirama e Joaquim Távora. É provável que o indígena residisse em uma comunidade indígena que, situada entre os rios Barra Grande e o Rio das Cinzas.

É natural que muitos duvidem da veracidade dos 160 anos alegados. Ainda assim, o relato documentado pelo jornal está disponível para quem quiser conferir na íntegra. Se a idade for ou não verdadeira, o que importa é o valor histórico do testemunho — um registro de que, já em 1903, havia presença humana organizada (inclusive indígena) na região que hoje chamamos de Norte Pioneiro do Paraná.

O relato também escancara uma realidade muitas vezes negligenciada: a convivência, forçada ou não, entre indígenas e colonizadores. A posse da terra raramente foi pacífica ao longo da história. Povos sempre tomaram territórios uns dos outros, e essa tensão permanece até hoje, ainda que com outras roupagens.

Muitos afirmam ser "donos" da terra, mas a verdade é que ninguém a possui de fato. Somos apenas ocupantes temporários. A terra permanece; os homens passam. E a história do velho indígena é um lembrete disso.

O indígena relatou que, aos 15 anos, vivia no sertão de Itapetininga (SP). Foi quando conheceu Frei Pacífico, um missionário que catequizava — e também escravizava — índios. Batizado com o nome de Antônio, foi levado à casa do frei, onde viveu como escravo por muitos anos.

Em 1758, com a promulgação do decreto do Marquês de Pombal que libertava os indígenas escravizados, ele partiu para Minas Gerais, convidado por índios já "civilizados". Visitou o Rio de Janeiro e dizia ter presenciado a execução de Tiradentes. Contava, com temor, que presenciou "coisas que tinha medo de relatar".

Cansado da violência em Minas — onde "se enforcava muita gente" — mudou-se para São João do Rio Verde. Por volto de 1889, chegou ao Paraná, onde vivia de forma simples, alimentando-se principalmente de peixes.

Este relato não é apenas curioso — ele é valioso. Mostra que os povos indígenas não eram "coisa do passado" já extinta no século XX. Eles estavam presentes, resistindo, vivendo, contando histórias. A de Antônio (nome de batismo dado por Frei Pacífico) é uma dessas histórias que merecem ser lembradas.

O recorte do jornal Correio Paulistano está disponível para os curiosos e pesquisadores. Vale conferir.

Abaixo: segue o recorte original do jornal: