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segunda-feira, 19 de março de 2018

O menino e a mamangava

Um menino é deixado pelos pais para passar alguns dias de suas férias na casa de seu avô, numa cidade do interior. Lá ele tenta matar uma mamangava, mas é impedido pelo avô que o convence a realizar uma missão: descobrir qual é a função daquele inseto na natureza. A partir daí, o garoto passa a desvendar alguns segredos da natureza e aprende valiosas lições.


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O menino e a mamangava

Adrianinho era um menino com belas feições, muito alegre e gostava de brincar. Vivia na Cidade grande com seus pais, morava em um apartamento e não tinha quase contato com o mundo exterior. Sua vida, com seis anos de idade, era mais ir à escola e jogos eletrônicos. Os pais eram superprotetores e não permitiam que tivesse muitos amiguinhos.
            A pele do menino era de um jambo claro, tinha cabelos pretos lisos e olhos esverdeados. Era obediente, inteligente e muito sapeca.
Após as festas de fim de ano os pais viajariam para a Europa e estavam a decidir com quem deixar o menino. Pensaram, pensaram e finalmente decidiram deixá-lo com o avô, o qual se chamava Benedito, era viúvo e morava em uma chácara nos arrabaldes de uma cidade pequenina do interior. Homem inteligente e dedicado, Seu Benedito nutria muito amor pelo neto, aliás sempre reclamava com Carlos, pai de Adrianinho: – “Por que vocês não trazem mais o menino? Ele precisa viver em lugares diferentes. Ficar só fechado dentro de um apartamento não é nada bom.” – Carlos concordava com o pai, mas Gabriele era muito ‘coruja’ e não gostava de deixar o filho com ninguém, era desconfiada demais. Contudo, dessa vez não teria jeito, a viagem para Europa se aproximava e não poderiam levar o menino. O único disponível e de confiança para ficar com o pequerrucho durante a viagem era Seu Benedito, pois os pais de Gabriele já haviam falecido há quatro anos.
A Cidade se localizava na região Sul do País, era conhecida como Morada do Vento, porque em determinada época do ano ventava todo dia, porém ultimamente, com as mudanças do clima, isso quase não tem mais acontecido.
Na primeira semana de janeiro, quando Carlos e Gabriele estavam a aprontar as malas de Adrianinho para então levá-lo a casa do avô, começou entre eles e o filho a seguinte conversa:
– Mãe, não esquece os meus brinquedos!
– Que brinquedo Adrianinho? Eu já coloquei tudo. O Ben 10, o Max Steel, os carrinhos da hot weels. O que mais você quer?
– O videogame, mãe.
– O seu avô advertiu seriamente para que não levássemos o videogame, disse que você precisava brincar de verdade e não virtualmente.
– Ah mãe! Vou ter de ficar um mês sem videogame? O que vou fazer? Nem internet tem na casa do vô. Não vou mais, eu não quero ir!
– Vai sim menino, você não tem escolha. – Disse Gabriele.
– Fica tranquilo Adrianinho, se você for e se comportar, quando sua mãe e eu voltarmos da Europa, vou trazer aqueles jogos que me pediu e um videogame novinho. – Falou Carlos.
– Oba! Tá bom pai, eu vou então.
Nesse instante Seu Benedito ligava lembrando a Carlos de não se esquecer de trazer a bicicleta do menino.
Após terem aprontado as malas de Adrianinho, iniciaram a viagem da Capital ao Interior, saíram de manhazinha, chegaram a casa de Seu Benedito, deixaram Adrianinho e já se foram, pois no outro dia viajariam. Ao chegar, o netinho foi recepcionado por seu avô com um grande beijo e um abraço bem apertado.
­­            – Oi, Adrianinho! Que saudade, até que enfim chegou, agora sim vai ficar um pouco com seu avô. Vem, pega tuas coisas, vamos levá-las a seu quarto! – Comunicou Seu Benedito.
O quarto do menino, preparado propositalmente por seu avô, era bem aconchegante, mas extremamente simples. A cama era antiga, as cortinas também e o cobertor feito de pequenos retalhos, no entanto o colchão, além de novinho, era bem macio.
Naquela tarde, o menino, ainda pensando na falta do videogame, estava meio emburrado. Enquanto isso seu avô, que era um bom cozinheiro, preparava uma jantinha para ambos.
– Adriano, amanhã cedo vamos andar de bicicleta, quero que você conheça a Cidade. Ah! Antes vou te mostrar a chácara. – Disse Seu Benedito.
A chácara era pequena, havia duas vacas, um cavalo, quatro porcos e algumas galinhas, também havia um pomar, o qual era bem cuidado por um senhor de nome Américo.
Nesse pomar havia um jirau entrelaçado de maracujazeiros que chamou muito a atenção de Adrianinho, pois na verdade parecia uma cabana, era coberto em cima pelas folhas e podia-se brincar embaixo.
O dia mal se iniciou e seu Benedito já acordou o neto, eis que tinha a intenção de levá-lo até ao curral aonde Américo esgotava as vacas.
– Ah vô, é tão cedo! Deixa eu dormir mais um pouquinho!
– Não senhor, hoje você vai tirar leite.
– O quê, tirar leite? Que jeito? Como é isso?
– Você já vai ver.
Caminharam, então, até ao curral, o sol ainda não havia nascido, quando chegaram ao estábulo, Seu Benedito falou:
– Bom dia, Seu Américo!
– Dia, Seu Dito! – Respondeu Seu Américo.
– Eu trouxe meu neto para aprender tirar leite. Os meninos da cidade muito raro têm essa oportunidade. Amarre a Mimosa pra ele! Ela é tão mansinha que não vai estranhar o menino.
Adrianinho estava com medo por estar vendo uma vaca tão de perto, ela parecia enorme e quanto mugia tinha uma sensação estranha. De repente viu que Seu Américo, após amarrar os pés da vaca, trazia o bezerro para ‘puxar’ o leite, a essas alturas, Adrianinho não entendia mais nada... Segurou na teta da vaca como o avô lhe ensinara, mas não saia leite algum, permaneceu tentando e só por causa da insistência do avô é que conseguiu tirar umas gotas de leite. O garotinho estava assustado e maravilhado com aquela cena, a vaca Mimosa, seu bezerro, o leite branquinho com espuma e aquele cheiro de curral, transmitiam-lhe uma sensação que nunca tivera experimentado.
            Após esses acontecimentos, recolheram o leite e tomaram café. A seguir seu Benedito e Adrianinho saíram andar de bicicleta pela cidade. Foram ao açougue. Durante a viagem o menino observava que o avô era bem conhecido naquela Cidade, pois muitas pessoas o cumprimentavam e até o paravam para conversar. Na volta, Benedito passou no Bar Koga, o qual era um boteco antigo e famoso na Cidade.
– Me dá um peixe e uma caçulinha. – Falou Seu Benedito.
O botequeiro japonês atendeu prontamente o pedido de Seu Benedito e se dirigindo a Adrianinho disse:
– E você menino, o que vai querer?
– O que meu avô pediu mesmo?
– Um peixe.
– Peixe? Nunca vi salgado de peixe.
– Mas aqui isso é tradição. O salgado de peixe é feito com um peixinho aberto e coberto com massa de salgado.
– Me dá um, quero ver se é gostoso. – Falou apontando o dedo para a estufa de salgados.
– É uma verdadeira delícia! E pra beber, o que vai querer?
– Uma caçulinha de framboesa.
Depois de se deliciar, Adrianinho ainda devorou uma paçoquinha, estava contente, afinal, aquilo não era como um passeio no shopping, era melhor, o salgado de peixe estava realmente uma delícia, e muito, mais muito mais gostoso que qualquer big-mac.
Quando voltaram, seu Dito foi até a tulha, pegou uma corda e fez um balanço em uma mangueira, só então foi preparar o almoço, deixando Adrianinho brincar até a hora que a comida estivesse pronta. No vai e vem do balanço, entre gritinhos de hiii-huull, Adrianinho avistou um inseto grande e preto esvoaçar perto dele. No mesmo instante saiu do brinquedo e começou a atirar pedras contra o inseto, mas era difícil de acertar o alvo, por isso desistiu das pedradas e imediatamente pegou um pedaço de pau, fazendo de conta que era espada. O menino dava espadadas imaginárias no interessante inseto, o qual esvoaçava baixo e parecia ignorar o perigo que o espreitava.
Aprontado o almoço, Seu Benedito se dirigiu a mangueira para chamar o netinho, afinal, Adrianinho devia estar com muita fome. No entanto aquela cena inocente, grotesca e até engraçada, o fez dar um grande grito.
– Pára com isso, Adrianinho! Não mate esse bicho! Larga já esse pau!
O menino paralisou-se com o berro, e sem entender, largou o pau.
– O que é que tem vô? Por que não posso matar ele? É só um besouro.
– Não é besouro. É uma mamangava e você não deve matá-la.
– Por que não? É só um bichinho de nada.
– Aí é que você se engana, esse bichinho aí tem uma função muito importante. Aliás, cada ser vivente existe para alguma finalidade. É preciso respeitar a vida, menino!
– Eu não entendi ainda, todo mundo mata os insetos, a mãe, nossa senhora, morre de medo deles. Qual é então a importância da mamangava?
– Essa vai ser a sua missão durante as férias.
– Missão! Que missão, vozinho?
– Descobrir qual é a função da mamangava na natureza e principalmente aqui neste pomar.
– Mas como vou fazer isso?
– Se vire, você não é bobo! E tem mais, se cumprir certinho a missão, vou fazer um bidê para você soltar com a gurizada.
Hipnotizado com a promessa de ganhar aquela pipa especial e também curioso com o inseto de vou engraçado, Adrianinho começou a pensar a mil: “Tenho que descobrir porque a mamangava é importante. Que importância pode ter? Será que ela é igual às abelhas que produzem? Acho que nunca comi mel de mamangava. Não deve ser isso. Quero descobrir logo”.
Adrianinho estava tão curioso que o prêmio do avô tinha ficado em segundo plano. Videogame então, nem mais se passava pela cabeça dele, esqueceu que existia até televisão! Acordava e ia dormir pensando na bendita Mamangava de seu Benedito avô.
No dia seguinte acordou de manhazinha, e depois do café com leite e pão com alguns acompanhamentos, foi até o pomar onde avistara a mamangava. Ficou por dez minutos observando e logo uma esvoaçou perto dele. Então Adrianinho começou a segui-la, notava que ela voava por todo o pomar, ficou surpreso quando percebeu que eram mais de uma mamangava que rondavam os pés de fruta. O menino as seguia por toda a parte. Elas voavam e ele ia correndo atrás. Sempre ficava por trás das árvores olhando como se fosse espião, aliás, ele estava se imaginando um espião detetive tentando seguir e descobrir as pistas de um caso. Era assim que Adrianinho passava os dias, cada dia estava mais interessado em descobrir a função da mamangava. Pegou até uma lupa que seu avô guardara no paiol de ferramentas e começou cada vez mais a se imaginar como um verdadeiro detetive.
Ao final da tarde, tomou seu banho e na hora do jantar seu avô lhe perguntou:
– O que descobriu até agora, Adrianinho?
– Que são mais de uma mamangava e que elas ficam o dia todo voando por entre o pomar.
– Está muito bom para o primeiro dia. Continue assim e logo descobrirá o segredo!
Na manhã seguinte, o destemido detetive, deu continuidade a sua investigação, com a mesma rotina de trabalho do dia anterior, ou seja: corre, esconde, pula, grita, volta à cozinha, bebe um pouco de água e reinicia mais animado ainda. Desta vez resolveu fazer um observatório em cima de uma árvore. Tirou os sapatos e trepou em uma caneleira, olhou de cima por um pouco e desceu logo, pois sua base arbórea não lhe dava a mobilidade que tinha no chão.
Imediatamente após ter descido, passaram duas mamangavas, nem calçou os sapatos, já começou persegui-las correndo, escondeu atrás do pé de fruta-do-conde para não ser avistado. Enquanto olhava, sentiu uma dor e começou a gritar: “Ai, ai, ai, formiga!” No seu descuido o menino pisou descalço em um formigueiro de formigas lavapé. O avô, ouvindo os gritos e choro do neto veio correndo a seu encontro.
– O que foi? O que foi? – Perguntou Seu Benedito, com cara de assustado.
– A formiga me mordeu. – Respondeu Adrianinho ainda chorando.
            – Isso não é nada, vamos lá no tanque lavar esse pé, logo passa a dor. Essas formiguinhas são fogo, se descuidar, elas te picam mesmo.
            Adrianinho lavou o pé e viu os carocinhos levantados no peito do pezinho e também em algumas partes de sua canela, porém, agora estava mais calmo, afinal de contas não estava mais doendo, só uma coceirinha o incomodava, quer dizer, era-lhe até prazerosa. Após o incidente, quer dizer, acidente, almoçou, descansou um pouco e começou novamente sua aventura em busca do segredo das mamangavas.
            Adrianinho ficou surpreso no momento em que viu uma das mamangavas se dirigindo a um toco seco e adentrando em um buraquinho. A nova descoberta o fascinara. Seu pensamento fazia as mais incríveis deduções: “Era ali que morava a mamangava, é a casinha dela. Que legal, ela voa até ao buraquinho e cabe certinho dentro dele! De que jeito será que ela fez aquele buraquinho?”
            Ele começou então a verificar os outros tocos existentes no pomar e observou vários buraquinhos iguais àquele que vira a mamangava adentrar, e mais, havia buraquinhos até em alguns palanques da cerca de arame farpado, a qual circundava o pomar.
            Às três horas da tarde seu avô lhe perguntou se gostaria de tomar um pouco de garapa.
            – Garapa? – Perguntou Adrianinho.
            – É o mesmo que caldo de cana. – Respondeu o avô.
            – Mas nós vamos na cidade comprar, vô?
            – Claro que não. Tem cana aqui, e também um engenho.
            – Que é engenho vô?
            – Ora bolas! É a maquina de moer a cana para tirar o caldo. Parece que seu pai não lhe ensinou nada!
            Seu Benedito cortou quatro canas viçosas, limpou-as e pediu a ajuda do piá para moer aquelas canas. Enquanto Adrianinho colocava as canas no engenho, seu Benedito girava a manivela produzindo o espumoso caldo delicioso que caia em uma jarra azul. Tendo terminado de moer as canas, notou que a jarra estava cheia. Seu Dito buscou gelo e misturou no caldo, servindo um copão para o neto e outro a si. Quando Adrianinho tomou a guarapa, sentiu o seu delicioso sabor, parecia que nenhum suco ou refrigerante lhe era mais gostoso, estava tão doce, uma delícia mesmo, e aquela espuma branca, hum!
            – Vô, as mamangavas moram em buraquinhos?
            – Você descobriu isso? Parabéns, você está indo muito bem.
            – Como é que elas fazem aqueles buraquinhos?
            – Espertinho... Isso é você que tem de descobrir.
            No outro dia Adrianinho observou que as mamangavas frequentavam mais os pés de maracujás do que todas as outras frutas, porém ainda desconhecia o motivo disso. Ao entardecer, contou ao avô das frequentes visitas das mamangavas aos maracujazeiros.
            – Ótimo, vejo que está fazendo progressos. – Disse o avô.
            – Mas até agora não descobri quase nada, vô!
            – Claro que sim, pelo que me lembro, no primeiro dia você descobriu que eram várias mamangavas, no segundo dia descobriu que elas moravam em buraquinhos e no terceiro dia que elas gostam de voar entre os ramos de maracujá. Anime-se menino! Você é muito esperto e tenho certeza que vai conseguir cumprir a missão.
            – Tá bom, vou tentar.
            – Tenho uma ideia! Por que você não vai ao sótão? Quem sabe lá você descubra alguma coisa.
            Mal o avô terminara de falar, o menino saiu correndo meio estabanado pela escada acima em direção ao sótão, permaneceu uns quinze minutos naquele lugar, retornando decepcionado.
            – Só tem livro lá vovô.
            – Isso mesmo.
            – Mas e as mamangavas?
            – Ora! Eu não falei a você que tinha mamangavas no sótão, falei que se quisesse descobrir mais sobre elas fosse no sótão.
            – Mas como? Será que existe algum segredo no sótão?
            – Sim, muitos, pode se dizer que cada livro bom guarda um segredo.
            – Ah, entendi! O senhor quer dizer que em algum daqueles livros está escrito sobre mamangavas.
            – Exatamente. É um que tem a capa verde com uma foto de um inseto nela, só que tá meio bagunçado lá. Você vai ter de procurar bastante.
            – To indo!
            – Não, não e não! Agora é hora de almoçar! Só depois você pode ir procurar.
            O menino obedeceu, mas estava muito ansioso para ver o que tinha escrito no livro. Mais tarde ele adentrou no sótão e procurou, no meio da procura pode notar que o avô possuía muitos livros de vários assuntos, mas a atenção de Adrianinho, logo se voltou a uma coleção de revista em quadrinhos. O menino se entreteve por cerca de vinte minutos com as revistinhas, quase esqueceu o que realmente estava procurando.    
            Depois de duas horas de busca, Adrianinho finalmente achou o tão procurado livro, que se chamava “As Várias Espécies de Abelhas”. Começou então a folhá-lo com muita empolgação. Entusiasmado com as afirmações, ficou admirado ao ver a quantidade de fotos de mamangavas existentes no livro. Depois de observar todo o livro, desceu apressado ao encontro de seu avô, queria que ele lesse o livro porque não havia entendido algumas palavras e isso se dava em razão da linguagem científica do livro.
            Enfim, Seu Benedito leu para Adrianinho o seguinte trecho: “As mamangavas são espécies de abelha de tamanho grande. Os gêneros mais comuns são: Bombus, Eulaema, Centris, Xylocopa e Epicharis. Existem mais de setecentas espécies pelo Mundo, só no Brasil há cerca de cinquenta tipos. É conhecida por vários nomes, como, por exemplo, mamangava, mamangaba, abelhão, vespa de rodeio, vespão, mangagá, entre outros. Elas fazem seus ninhos em caules de madeira morta ou no solo e são grandes agentes polinizadores. São responsáveis pela polinização de várias espécies de plantas nativas. A maioria delas é preta ou amarela e quando voam emitem um alto zumbido. Apesar de grandes, são dóceis, pois permitem que as observemos de perto, raramente picam, só picam se as apertarmos.”
            Após essa leitura, Adrianinho naturalmente tinha muitas dúvidas e perguntou para o avô, que lhe explicou tudo.
            – Viu Adrianinho agora você sabe o que são as mamangavas.
            – É mesmo. Espécies de abelhas, conhecida por alguns como abelhas carpinteiras, porque escavam troncos secos e fazem ali suas casinhas, quer dizer ninho. – Adrianinho deu um risinho enquanto falava.
            – Mas a função delas na natureza e no pomar você ainda não sabe.
            – O livro disse que são grandes polinizadoras. Mas eu não sei o que é isso e o senhor não explicou.
            – Se eu explicar agora, não tem graça. Você foi muito bem até agora. Amanhã comece a observar as mamangavas novamente, note bem aonde elas mais vão e o que elas fazem! Depois que você descobrir isso eu lhe explico o que não entender.
            Adrianinho dormiu naquela noite pensando nesses formidáveis abelhões e de tanto pensar, sonhou com flores e mamangavas, e que brincava com elas. Acordou animadíssimo e novamente retornou à sua empreitada, desta vez montou um observatório perto dos maracujazeiros, pois sabia que era ali o frequente esvoaçar das mamangavas. Levou água e sanduíche, estava determinado a ficar ali o dia inteiro caso precisasse. Queria por que queria descobrir a função das mamangavas.
            Para montar o observatório o menino pegou uma lona velha que achou na tulha da chácara e fez uma camuflagem para que pudesse olhar as mamangavas o mais perto possível sem que elas o vissem e se espantassem.
            Depois de o menino ficar observando por horas, começou a notar que as mamangavas pousavam nas flores dos maracujazeiros, mas ainda não sabia qual era a função exercida por suas amiguinhas aladas, pois pensava: “O livro disse que elas se alimentavam de néctar. Estou vendo só elas se alimentarem, até agora parece que é o maracujá que é importante para a mamangava porque ela se alimenta do néctar da flor dele, não consigo imaginar qual seria a função da mamangava. Polinização? O que será isso? Se eu soubesse o que isso significa, saberia o que a mamangava faz de bom à natureza. Bom, pelo menos eu sei que elas tem uma ligação maior com os pés de maracujá. Elas devem fazer alguma coisa boa a eles, mas o quê? Não tem jeito, vou ter de perguntar tudo pro vovô.”
            – Oi vovô, hoje eu vi que as mamangavas se alimentam do néctar das flores de maracujá, mas não consegui descobrir o que é polinização.
            – Senta aí que vou explicar! A polinização se dá quando o pólen é transportado de uma planta para outra. O pólen é um minúsculo grãozinho, quase invisível, e ele é formado no órgão reprodutor chamado androceu, que é o órgão masculino da planta, o qual fica alojado dentro da flor. O órgão de reprodução feminino das flores chama-se gineceu. Para que se produza o fruto, o pólen tem de ser transportado para o órgão feminino da planta. Aí é que entra o trabalho das mamangavas! Ou em palavras mais simples: a flor macho do maracujá produz os polens e estes tem de ser levados a uma flor fêmea para que o fruto cresça. É como um bom casamento, ou seja, o pólen pode representar o papai, o órgão feminino da planta é como se fosse a mamãe e o fruto é o filhinho, é como se o pólen fosse seu pai,  a flor fêmea, sua mãe e você, o maracujá. Acontece que os seres humanos podem se locomover e assim não necessitam de alguém para os transportar. Já o maracujazeiro...
            – Vovô, quer dizer que as mamangavas levam o pólen de uma flor de maracujá para outra? Mas como elas levam?
            – O que você reparou quando as mamangavas estavam nas flores de maracujá?
            – Muitas coisas. O zumbido das asinhas, o jeito de voar, a maneira como pousavam nas flores, o seu biquinho chupando o néctar...
            – Pense bem! O que havia de mais diferente nelas quando saiam de uma flor?
            – Hum... Pera aí! Ah... Estou lembrando de uma coisa que me chamou atenção, elas saíam das flores com o corpo coberto de uma espécie de pozinho amarelo...
            – Exatamente. Esse pozinho amarelo é o famoso pólen. Quando a mamangava entra na flor de maracujá ela rela com as partes de seu corpinho nos polens e os polens grudam nela, ai quando ela se dirige a outras flores, ela rela os grãos de polens que estão grudados no seu corpo nos órgãos femininos de outras flores, fecundando a flor de maracujá. A partir desse momento começa a crescer um novo maracujazinho.
            – Então é isso. Que interessante vô! Mas quem ensinou isso a elas?
            – Isso nem eu nem ninguém sabe, o importante é que elas fazem e fazem muito bem.
            – Os outros insetos também podem fazer o mesmo no maracujá?
            – Não, pois o maracujá é um caso especial, pelo grande tamanho da flor do maracujazeiro só a mamangava consegue polinizá-lo com eficiência, pois os outros insetos são menores do que ela, e as costas desses insetos menores não conseguem relar no local em que fica o pólen. Já o tamanho da mamangava dá certinho com o tamanho da flor de maracujá, por isso a mamangava é o principal polinizador do maracujá. Agora você sabe o quanto as mamangavas são importantes. Sem elas você não teria tomado aquele delicioso suco de maracujá que fiz ontem no almoço.
            – Nossa vô, nunca imaginava que um bichinho tão pequenino pudesse ser tão importante.
            – Na natureza tamanho não é documento. Espero que tenha aprendido a lição de que é preciso respeitar todo o tipo de ser vivo, pois cada um tem um trabalho no meio ambiente.
            – É vovô, eu aprendi sim e aprendi mais uma coisa ainda.
            – O quê?
            – Eu gosto das mamangavas, elas são tão legais quando voam, o barulhinho das asas parece um avião...
            – Eh menino! Só mais uma coisa. Para você aprender um pouco mais sobre a polinização do maracujá, quero que mais tarde dê uma olhada em um livro que está lá no sótão.
            No mesmo dia Adrianinho observou o livro recomendado pelo avô e junto com ele leu as partes que explicavam sobre o maracujá e também sobre seus principais polinizadores, as mamangavas.
            O menino estava contente, finalmente havia descoberto o segredo. Ele gostou tanto de como o tinha descoberto, que, nos dias seguintes, continuou brincando com as mamangavas. Desta vez as imaginava como se fossem aviões de guerra fazendo seu abastecimento nas flores de maracujá.
            Seu Benedito começou a construir o bidê prometido como prêmio para o neto. Aliás, ele não apenas deu a pipa a Adrianhinho como também ensinou a fazê-la, pois era uma pipa que pouca gente sabia fazer, muito complexa de construir, só em sua armação eram empregadas vinte e duas varetinhas de bambu...
            Ao final do mês, os pais de Adrianinho chegaram de viagem e foram buscá-lo, mas o menino não queria ir embora, queria ficar até o final de suas férias na casa do avô.
            – Nossa! Que mágica seu avô fez para você querer ficar mais? – Falou a mãe de Adrianinho.
            – Vamos embora rapazinho. Lembra o videogame que me pediu, eu o trouxe, está em casa te esperando. – Falou o pai.
            – Não quero mais, eu quero é ficar aqui. – Respondeu Adrianinho.
            – O quê? – Perguntaram ao mesmo tempo os pais do garoto que estavam completamente boquiabertos.
            – Mãe, quero que deixe comigo a câmera fotográfica. – Disse Adrianinho.
            Os pais estavam perplexos com a mudança do menino, afinal, há um mês atrás tiveram dificuldades em convencê-lo a passar as férias com o avô. Por fim, Carlos e Gabriele se renderam aos apelos do filho e o deixaram mais um mês com Seu Benedito.
            Adrianinho não comunicou para seus pais o que faria com a câmera que pedira. No restante das férias o gurizinho continuou perseguindo mamangavas. Dessa vez, de câmera na mão, procurava os melhores ângulos para tirar fotos dos singulares insetos. Toda noite mostrava as fotos para seu avô e os dois selecionavam as melhores imagens e as arquivavam. Até o avô entrou na brincadeira, agora eram duas crianças fotografando mamangavas. Os dois combinaram em fazer um grande álbum, com comentários e tudo. Quando chegou o final das férias Adrianinho e Seu Benedito tinham feito um álbum com quase mil fotos de mamangavas.       Daquele dia em diante, a cada feriado prolongado, o menino exigia que os pais o levassem a casa do avô, e sempre que ele escutava um zumbido de mamangava se lembrava das melhores férias de toda sua vida.

Tenebrosa Deturpação

Tenebrosa Deturpação é um romance policial delicioso e instigante. Tece uma grande trama investigativa. Além da parte lúdica da narrativa, traz, nas entrelinhas, uma reflexão crítica apenas acessada pelos leitores mais perspicazes.

Ajude o detetive Ricardo Torres a solucionar este caso!

134 páginas.






Contos Profissionais é uma coletânea de contos retratando a realidade, os sonhos, as dificuldades e até mesmo o martírio de pessoas comuns submetidas ao sistema social atual.

O texto foi premiado no concurso literário Cidade de Manaus em primeiro lugar na categoria contos. Vide resultado: 



Aventure-se nesta leitura e expanda sua consciência, cultivando um saber crítico do todo que nos envolve.
107 pág.






quinta-feira, 15 de março de 2018

Quase Acaso

Quase acaso é um romance envolvente, com duas histórias paralelas que se fundem: O protagonista e seu primo italiano mafioso. Aliás, na verdade, os dois são protagonistas e o primo mafioso quase tornou o protagonista coadjuvante, dada a força do personagem. Além da parte ficcional, alcança tons críticos em relação a diversos aspectos sociais e morais. Quem ler não se arrependerá e ainda angariará pontos de vista preciosos sobre algumas relações sociais.




Lua, Lobos e Cerrado

Um romance para viajar pelo cerrado mato-grossense e pela lenda dos lobisomens. Há quatro espécies de lobisomens, dentre essas uma se encarrega de mantê-los dentro dos limites mágicos... Mas quando a equipe de um doutorando adentra por acaso no local, começa uma aventura que mudará o destino de todos, inclusive dos lobisomens.

Este é o primeiro volume do que pretende ser uma trilogia. Assim que o tempo permitir o autor escreverá a continuação.

Se delicie com a leitura!

Gênero: Fantasia. 323 páginas.