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O menino e a mamangava
Adrianinho era um menino com belas feições, muito alegre e gostava de
brincar. Vivia na Cidade grande com seus pais, morava em um apartamento e não
tinha quase contato com o mundo exterior. Sua vida, com seis anos de idade, era
mais ir à escola e jogos eletrônicos. Os pais eram superprotetores e não
permitiam que tivesse muitos amiguinhos.
A pele do menino era de um jambo
claro, tinha cabelos pretos lisos e olhos esverdeados. Era obediente,
inteligente e muito sapeca.
Após as festas de fim de ano os pais viajariam para a Europa e estavam a
decidir com quem deixar o menino. Pensaram, pensaram e finalmente decidiram
deixá-lo com o avô, o qual se chamava Benedito, era viúvo e morava em uma
chácara nos arrabaldes de uma cidade pequenina do interior. Homem inteligente e
dedicado, Seu Benedito nutria muito amor pelo neto, aliás sempre reclamava com
Carlos, pai de Adrianinho: – “Por que vocês não trazem mais o menino? Ele precisa
viver em lugares diferentes. Ficar só fechado dentro de um apartamento não é
nada bom.” – Carlos concordava com o pai, mas Gabriele era muito ‘coruja’ e não
gostava de deixar o filho com ninguém, era desconfiada demais. Contudo, dessa
vez não teria jeito, a viagem para Europa se aproximava e não poderiam levar o
menino. O único disponível e de confiança para ficar com o pequerrucho durante
a viagem era Seu Benedito, pois os pais de Gabriele já haviam falecido há
quatro anos.
A Cidade se localizava na região Sul do País, era conhecida como Morada
do Vento, porque em determinada época do ano ventava todo dia, porém
ultimamente, com as mudanças do clima, isso quase não tem mais acontecido.
Na primeira semana de janeiro, quando Carlos e Gabriele estavam a
aprontar as malas de Adrianinho para então levá-lo a casa do avô, começou entre
eles e o filho a seguinte conversa:
– Mãe, não esquece os meus brinquedos!
– Que brinquedo Adrianinho? Eu já coloquei tudo. O Ben 10, o Max Steel,
os carrinhos da hot weels. O que mais você quer?
– O videogame, mãe.
– O seu avô advertiu seriamente para que não levássemos o videogame,
disse que você precisava brincar de verdade e não virtualmente.
– Ah mãe! Vou ter de ficar um mês sem videogame? O que vou fazer? Nem
internet tem na casa do vô. Não vou mais, eu não quero ir!
– Vai sim menino, você não tem escolha. – Disse Gabriele.
– Fica tranquilo Adrianinho, se você for e se comportar, quando sua mãe e
eu voltarmos da Europa, vou trazer aqueles jogos que me pediu e um videogame
novinho. – Falou Carlos.
– Oba! Tá bom pai, eu vou então.
Nesse instante Seu Benedito ligava lembrando a Carlos de não se esquecer
de trazer a bicicleta do menino.
Após terem aprontado as malas de Adrianinho, iniciaram a viagem da
Capital ao Interior, saíram de manhazinha, chegaram a casa de Seu Benedito,
deixaram Adrianinho e já se foram, pois no outro dia viajariam. Ao chegar, o
netinho foi recepcionado por seu avô com um grande beijo e um abraço bem
apertado.
– Oi, Adrianinho! Que saudade, até
que enfim chegou, agora sim vai ficar um pouco com seu avô. Vem, pega tuas coisas,
vamos levá-las a seu quarto! – Comunicou Seu Benedito.
O quarto do menino, preparado propositalmente por seu avô, era bem
aconchegante, mas extremamente simples. A cama era antiga, as cortinas também e
o cobertor feito de pequenos retalhos, no entanto o colchão, além de novinho,
era bem macio.
Naquela tarde, o menino, ainda pensando na falta do videogame, estava
meio emburrado. Enquanto isso seu avô, que era um bom cozinheiro, preparava uma
jantinha para ambos.
– Adriano, amanhã cedo vamos andar de bicicleta, quero que você conheça a
Cidade. Ah! Antes vou te mostrar a chácara. – Disse Seu Benedito.
A chácara era pequena, havia duas vacas, um cavalo, quatro porcos e
algumas galinhas, também havia um pomar, o qual era bem cuidado por um senhor
de nome Américo.
Nesse pomar
havia um jirau entrelaçado de maracujazeiros que chamou muito a atenção de
Adrianinho, pois na verdade parecia uma cabana, era coberto em cima pelas
folhas e podia-se brincar embaixo.
O dia mal se iniciou e seu Benedito já acordou o neto, eis que tinha a
intenção de levá-lo até ao curral aonde Américo esgotava as vacas.
– Ah vô, é tão cedo! Deixa eu dormir mais um pouquinho!
– Não senhor, hoje você vai tirar leite.
– O quê, tirar leite? Que jeito? Como é isso?
– Você já vai ver.
Caminharam, então, até ao curral, o sol ainda não havia nascido, quando
chegaram ao estábulo, Seu Benedito falou:
– Bom dia, Seu Américo!
– Dia, Seu Dito! – Respondeu Seu Américo.
– Eu trouxe meu neto para aprender tirar leite. Os meninos da cidade
muito raro têm essa oportunidade. Amarre a Mimosa pra ele! Ela é tão mansinha
que não vai estranhar o menino.
Adrianinho estava com medo por estar vendo uma vaca tão de perto, ela
parecia enorme e quanto mugia tinha uma sensação estranha. De repente viu que Seu
Américo, após amarrar os pés da vaca, trazia o bezerro para ‘puxar’ o leite, a essas
alturas, Adrianinho não entendia mais nada... Segurou na teta da vaca como o
avô lhe ensinara, mas não saia leite algum, permaneceu tentando e só por causa
da insistência do avô é que conseguiu tirar umas gotas de leite. O garotinho
estava assustado e maravilhado com aquela cena, a vaca Mimosa, seu bezerro, o
leite branquinho com espuma e aquele cheiro de curral, transmitiam-lhe uma
sensação que nunca tivera experimentado.
Após esses acontecimentos, recolheram
o leite e tomaram café. A seguir seu Benedito e Adrianinho saíram andar de
bicicleta pela cidade. Foram ao açougue. Durante a viagem o menino observava
que o avô era bem conhecido naquela Cidade, pois muitas pessoas o cumprimentavam
e até o paravam para conversar. Na volta, Benedito passou no Bar Koga, o qual
era um boteco antigo e famoso na Cidade.
– Me dá um peixe e uma caçulinha. – Falou Seu Benedito.
O botequeiro japonês atendeu prontamente o pedido de Seu Benedito e se dirigindo
a Adrianinho disse:
– E você menino, o que vai querer?
– O que meu avô pediu mesmo?
– Um peixe.
– Peixe? Nunca vi salgado de peixe.
– Mas aqui isso é tradição. O salgado de peixe é feito com um peixinho
aberto e coberto com massa de salgado.
– Me dá um, quero ver se é gostoso. – Falou apontando o dedo para a
estufa de salgados.
– É uma verdadeira delícia! E pra beber, o que vai querer?
– Uma caçulinha de framboesa.
Depois de se deliciar, Adrianinho ainda devorou uma paçoquinha, estava contente,
afinal, aquilo não era como um passeio no shopping, era melhor, o salgado de
peixe estava realmente uma delícia, e muito, mais muito mais gostoso que
qualquer big-mac.
Quando voltaram, seu Dito foi até a tulha, pegou uma corda e fez um balanço
em uma mangueira, só então foi preparar o almoço, deixando Adrianinho brincar
até a hora que a comida estivesse pronta. No vai e vem do balanço, entre
gritinhos de hiii-huull, Adrianinho avistou um inseto grande e preto esvoaçar
perto dele. No mesmo instante saiu do brinquedo e começou a atirar pedras
contra o inseto, mas era difícil de acertar o alvo, por isso desistiu das
pedradas e imediatamente pegou um pedaço de pau, fazendo de conta que era
espada. O menino dava espadadas imaginárias no interessante inseto, o qual esvoaçava
baixo e parecia ignorar o perigo que o espreitava.
Aprontado o almoço, Seu Benedito se dirigiu a mangueira para chamar o
netinho, afinal, Adrianinho devia estar com muita fome. No entanto aquela cena
inocente, grotesca e até engraçada, o fez dar um grande grito.
– Pára com isso, Adrianinho! Não mate esse bicho! Larga já esse pau!
O menino paralisou-se com o berro, e sem entender, largou o pau.
– O que é que tem vô? Por que não posso matar ele? É só um besouro.
– Não é besouro. É uma mamangava e você não deve matá-la.
– Por que não? É só um bichinho de nada.
– Aí é que você se engana, esse bichinho aí tem uma função muito
importante. Aliás, cada ser vivente existe para alguma finalidade. É preciso
respeitar a vida, menino!
– Eu não entendi ainda, todo mundo mata os insetos, a mãe, nossa senhora,
morre de medo deles. Qual é então a importância da mamangava?
– Essa vai ser a sua missão durante as férias.
– Missão! Que missão, vozinho?
– Descobrir qual é a função da mamangava na natureza e principalmente aqui
neste pomar.
– Mas como vou fazer isso?
– Se vire, você não é bobo! E tem mais, se cumprir certinho a missão, vou
fazer um bidê para você soltar com a gurizada.
Hipnotizado com a promessa de ganhar aquela pipa especial e também
curioso com o inseto de vou engraçado, Adrianinho começou a pensar a mil:
“Tenho que descobrir porque a mamangava é importante. Que importância pode ter?
Será que ela é igual às abelhas que produzem? Acho que nunca comi mel de
mamangava. Não deve ser isso. Quero descobrir logo”.
Adrianinho estava tão curioso que o prêmio do avô tinha ficado em segundo
plano. Videogame então, nem mais se passava pela cabeça dele, esqueceu que
existia até televisão! Acordava e ia dormir pensando na bendita Mamangava de seu
Benedito avô.
No dia seguinte acordou de manhazinha, e depois do café com leite e pão
com alguns acompanhamentos, foi até o pomar onde avistara a mamangava. Ficou
por dez minutos observando e logo uma esvoaçou perto dele. Então Adrianinho
começou a segui-la, notava que ela voava por todo o pomar, ficou surpreso
quando percebeu que eram mais de uma mamangava que rondavam os pés de fruta. O
menino as seguia por toda a parte. Elas voavam e ele ia correndo atrás. Sempre
ficava por trás das árvores olhando como se fosse espião, aliás, ele estava se
imaginando um espião detetive tentando seguir e descobrir as pistas de um caso.
Era assim que Adrianinho passava os dias, cada dia estava mais interessado em
descobrir a função da mamangava. Pegou até uma lupa que seu avô guardara no paiol
de ferramentas e começou cada vez mais a se imaginar como um verdadeiro
detetive.
Ao final da tarde, tomou seu banho e na hora do jantar seu avô lhe
perguntou:
– O que descobriu até agora, Adrianinho?
– Que são mais de uma mamangava e que elas ficam o dia todo voando por
entre o pomar.
– Está muito bom para o primeiro dia. Continue assim e logo descobrirá o
segredo!
Na manhã seguinte, o destemido detetive, deu continuidade a sua
investigação, com a mesma rotina de trabalho do dia anterior, ou seja: corre,
esconde, pula, grita, volta à cozinha, bebe um pouco de água e reinicia mais
animado ainda. Desta vez resolveu fazer um observatório em cima de uma árvore. Tirou
os sapatos e trepou em uma caneleira, olhou de cima por um pouco e desceu logo,
pois sua base arbórea não lhe dava a mobilidade que tinha no chão.
Imediatamente após ter descido, passaram duas mamangavas, nem calçou os sapatos,
já começou persegui-las correndo, escondeu atrás do pé de fruta-do-conde para
não ser avistado. Enquanto olhava, sentiu uma dor e começou a gritar: “Ai, ai,
ai, formiga!” No seu descuido o menino pisou descalço em um formigueiro de
formigas lavapé. O avô, ouvindo os gritos e choro do neto veio correndo a seu
encontro.
– O que foi? O que foi? – Perguntou Seu Benedito, com cara de assustado.
– A formiga me mordeu. – Respondeu Adrianinho ainda chorando.
– Isso não é nada, vamos lá no
tanque lavar esse pé, logo passa a dor. Essas formiguinhas são fogo, se
descuidar, elas te picam mesmo.
Adrianinho lavou o pé e viu os
carocinhos levantados no peito do pezinho e também em algumas partes de sua
canela, porém, agora estava mais calmo, afinal de contas não estava mais doendo,
só uma coceirinha o incomodava, quer dizer, era-lhe até prazerosa. Após o
incidente, quer dizer, acidente, almoçou, descansou um pouco e começou
novamente sua aventura em busca do segredo das mamangavas.
Adrianinho ficou surpreso no momento em que viu uma das mamangavas se dirigindo a
um toco seco e adentrando em um buraquinho. A nova descoberta o fascinara. Seu
pensamento fazia as mais incríveis deduções: “Era ali que morava a mamangava, é
a casinha dela. Que legal, ela voa até ao buraquinho e cabe certinho dentro
dele! De que jeito será que ela fez aquele buraquinho?”
Ele começou então a verificar os
outros tocos existentes no pomar e observou vários buraquinhos iguais àquele
que vira a mamangava adentrar, e mais, havia buraquinhos até em alguns
palanques da cerca de arame farpado, a qual circundava o pomar.
Às três horas da tarde seu avô lhe
perguntou se gostaria de tomar um pouco de garapa.
– Garapa? – Perguntou Adrianinho.
– É o mesmo que caldo de cana. –
Respondeu o avô.
– Mas nós vamos na cidade comprar,
vô?
– Claro que não. Tem cana aqui, e
também um engenho.
– Que é engenho vô?
– Ora bolas! É a maquina de moer a
cana para tirar o caldo. Parece que seu pai não lhe ensinou nada!
Seu Benedito cortou quatro canas
viçosas, limpou-as e pediu a ajuda do piá para moer aquelas canas. Enquanto
Adrianinho colocava as canas no engenho, seu Benedito girava a manivela
produzindo o espumoso caldo delicioso que caia em uma jarra azul. Tendo
terminado de moer as canas, notou que a jarra estava cheia. Seu Dito buscou
gelo e misturou no caldo, servindo um copão para o neto e outro a si. Quando
Adrianinho tomou a guarapa, sentiu o seu delicioso sabor, parecia que nenhum
suco ou refrigerante lhe era mais gostoso, estava tão doce, uma delícia mesmo,
e aquela espuma branca, hum!
– Vô, as mamangavas moram em
buraquinhos?
– Você descobriu isso? Parabéns,
você está indo muito bem.
– Como é que elas fazem aqueles
buraquinhos?
– Espertinho... Isso é você que tem
de descobrir.
No outro dia Adrianinho observou que
as mamangavas frequentavam mais os pés de maracujás do que todas as outras
frutas, porém ainda desconhecia o motivo disso. Ao entardecer, contou ao avô
das frequentes visitas das mamangavas aos maracujazeiros.
– Ótimo, vejo que está fazendo
progressos. – Disse o avô.
– Mas até agora não descobri quase
nada, vô!
– Claro que sim, pelo que me lembro,
no primeiro dia você descobriu que eram várias mamangavas, no segundo dia
descobriu que elas moravam em buraquinhos e no terceiro dia que elas gostam de
voar entre os ramos de maracujá. Anime-se menino! Você é muito esperto e tenho
certeza que vai conseguir cumprir a missão.
– Tá bom, vou tentar.
– Tenho uma ideia! Por que você não
vai ao sótão? Quem sabe lá você descubra alguma coisa.
Mal o avô terminara de falar, o
menino saiu correndo meio estabanado pela escada acima em direção ao sótão,
permaneceu uns quinze minutos naquele lugar, retornando decepcionado.
– Só tem livro lá vovô.
– Isso mesmo.
– Mas e as mamangavas?
– Ora! Eu não falei a você que tinha
mamangavas no sótão, falei que se quisesse descobrir mais sobre elas fosse no
sótão.
– Mas como? Será que existe algum
segredo no sótão?
– Sim, muitos, pode se dizer que
cada livro bom guarda um segredo.
– Ah, entendi! O senhor quer dizer
que em algum daqueles livros está escrito sobre mamangavas.
– Exatamente. É um que tem a capa
verde com uma foto de um inseto nela, só que tá meio bagunçado lá. Você vai ter
de procurar bastante.
– To indo!
– Não, não e não! Agora é hora de
almoçar! Só depois você pode ir procurar.
O menino obedeceu, mas estava muito
ansioso para ver o que tinha escrito no livro. Mais tarde ele adentrou no sótão
e procurou, no meio da procura pode notar que o avô possuía muitos livros de
vários assuntos, mas a atenção de Adrianinho, logo se voltou a uma coleção de
revista em quadrinhos. O
menino se entreteve por cerca de vinte minutos com as revistinhas, quase
esqueceu o que realmente estava procurando.
Depois de duas horas de busca,
Adrianinho finalmente achou o tão procurado livro, que se chamava “As Várias
Espécies de Abelhas”. Começou então a folhá-lo com muita empolgação. Entusiasmado
com as afirmações, ficou admirado ao ver a quantidade de fotos de mamangavas
existentes no livro. Depois de observar todo o livro, desceu apressado ao
encontro de seu avô, queria que ele lesse o livro porque não havia entendido
algumas palavras e isso se dava em razão da linguagem científica do livro.
Enfim, Seu Benedito leu para Adrianinho
o seguinte trecho: “As mamangavas são espécies de abelha de tamanho grande. Os
gêneros mais comuns são: Bombus, Eulaema, Centris, Xylocopa e Epicharis. Existem
mais de setecentas espécies pelo Mundo, só no Brasil há cerca de cinquenta
tipos. É conhecida por vários nomes, como, por exemplo, mamangava, mamangaba, abelhão,
vespa de rodeio, vespão, mangagá, entre outros. Elas fazem seus ninhos em
caules de madeira morta ou no solo e são grandes agentes polinizadores. São
responsáveis pela polinização de várias espécies de plantas nativas. A maioria
delas é preta ou amarela e quando voam emitem um alto zumbido. Apesar de
grandes, são dóceis, pois permitem que as observemos de perto, raramente picam,
só picam se as apertarmos.”
Após essa leitura, Adrianinho
naturalmente tinha muitas dúvidas e perguntou para o avô, que lhe explicou
tudo.
– Viu Adrianinho agora você sabe o
que são as mamangavas.
– É mesmo. Espécies de abelhas,
conhecida por alguns como abelhas carpinteiras, porque escavam troncos secos e
fazem ali suas casinhas, quer dizer ninho. – Adrianinho deu um risinho enquanto
falava.
– Mas a função delas na natureza e
no pomar você ainda não sabe.
– O livro disse que são grandes
polinizadoras. Mas eu não sei o que é isso e o senhor não explicou.
– Se eu explicar agora, não tem
graça. Você foi muito bem até agora. Amanhã comece a observar as mamangavas
novamente, note bem aonde elas mais vão e o que elas fazem! Depois que você
descobrir isso eu lhe explico o que não entender.
Adrianinho dormiu naquela noite
pensando nesses formidáveis abelhões e de tanto pensar, sonhou com flores e
mamangavas, e que brincava com elas. Acordou animadíssimo e novamente retornou
à sua empreitada, desta vez montou um observatório perto dos maracujazeiros,
pois sabia que era ali o frequente esvoaçar das mamangavas. Levou água e
sanduíche, estava determinado a ficar ali o dia inteiro caso precisasse. Queria
por que queria descobrir a função das mamangavas.
Para montar o observatório o menino
pegou uma lona velha que achou na tulha da chácara e fez uma camuflagem para
que pudesse olhar as mamangavas o mais perto possível sem que elas o vissem e
se espantassem.
Depois de o menino ficar observando
por horas, começou a notar que as mamangavas pousavam nas flores dos
maracujazeiros, mas ainda não sabia qual era a função exercida por suas
amiguinhas aladas, pois pensava: “O livro disse que elas se alimentavam de
néctar. Estou vendo só elas se alimentarem, até agora parece que é o maracujá
que é importante para a mamangava porque ela se alimenta do néctar da flor
dele, não consigo imaginar qual seria a função da mamangava. Polinização? O que
será isso? Se eu soubesse o que isso significa, saberia o que a mamangava faz
de bom à natureza. Bom, pelo menos eu sei que elas tem uma ligação maior com os
pés de maracujá. Elas devem fazer alguma coisa boa a eles, mas o quê? Não tem
jeito, vou ter de perguntar tudo pro vovô.”
– Oi vovô, hoje eu vi que as mamangavas
se alimentam do néctar das flores de maracujá, mas não consegui descobrir o que
é polinização.
– Senta aí que vou explicar! A polinização
se dá quando o pólen é transportado de uma planta para outra. O pólen é um
minúsculo grãozinho, quase invisível, e ele é formado no órgão reprodutor
chamado androceu, que é o órgão masculino da planta, o qual fica alojado dentro
da flor. O órgão de reprodução feminino das flores chama-se gineceu. Para que
se produza o fruto, o pólen tem de ser transportado para o órgão feminino da
planta. Aí é que entra o trabalho das mamangavas! Ou em palavras mais simples:
a flor macho do maracujá produz os polens e estes tem de ser levados a uma flor
fêmea para que o fruto cresça. É como um bom casamento, ou seja, o pólen pode representar
o papai, o órgão feminino da planta é
como se fosse a mamãe e o fruto é o filhinho, é como se o pólen fosse seu pai, a flor fêmea, sua mãe e você, o maracujá. Acontece que os seres humanos podem se
locomover e assim não necessitam de alguém para os transportar. Já o
maracujazeiro...
– Vovô, quer dizer que as mamangavas
levam o pólen de uma flor de maracujá para outra? Mas como elas levam?
– O que você reparou quando as
mamangavas estavam nas flores de maracujá?
– Muitas coisas. O zumbido das asinhas,
o jeito de voar, a maneira como pousavam nas flores, o seu biquinho chupando o
néctar...
– Pense bem! O que havia de mais
diferente nelas quando saiam de uma flor?
– Hum... Pera aí! Ah... Estou
lembrando de uma coisa que me chamou atenção, elas saíam das flores com o corpo
coberto de uma espécie de pozinho amarelo...
– Exatamente. Esse pozinho amarelo é
o famoso pólen. Quando a mamangava entra na flor de maracujá ela rela com as
partes de seu corpinho nos polens e os polens grudam nela, ai quando ela se dirige
a outras flores, ela rela os grãos de polens que estão grudados no seu corpo nos
órgãos femininos de outras flores, fecundando a flor de maracujá. A partir
desse momento começa a crescer um novo maracujazinho.
– Então é isso. Que interessante vô!
Mas quem ensinou isso a elas?
– Isso nem eu nem ninguém sabe, o
importante é que elas fazem e fazem muito bem.
– Os outros insetos também podem
fazer o mesmo no maracujá?
– Não, pois o maracujá é um caso
especial, pelo grande tamanho da flor do maracujazeiro só a mamangava consegue polinizá-lo
com eficiência, pois os outros insetos são menores do que ela, e as costas desses
insetos menores não conseguem relar no local em que fica o pólen. Já o tamanho
da mamangava dá certinho com o tamanho da flor de maracujá, por isso a
mamangava é o principal polinizador do maracujá. Agora você sabe o quanto as
mamangavas são importantes. Sem elas você não teria tomado aquele delicioso
suco de maracujá que fiz ontem no almoço.
– Nossa vô, nunca imaginava que um
bichinho tão pequenino pudesse ser tão importante.
– Na natureza tamanho não é
documento. Espero que tenha aprendido a lição de que é preciso respeitar todo o
tipo de ser vivo, pois cada um tem um trabalho no meio ambiente.
– É vovô, eu aprendi sim e aprendi
mais uma coisa ainda.
– O quê?
– Eu gosto das mamangavas, elas são
tão legais quando voam, o barulhinho das asas parece um avião...
– Eh menino! Só mais uma coisa. Para
você aprender um pouco mais sobre a polinização do maracujá, quero que mais tarde
dê uma olhada em um livro que está lá no sótão.
No mesmo dia Adrianinho observou o
livro recomendado pelo avô e junto com ele leu as partes que explicavam sobre o
maracujá e também sobre seus principais polinizadores, as mamangavas.
O menino estava contente, finalmente
havia descoberto o segredo. Ele gostou tanto de como o tinha descoberto, que,
nos dias seguintes, continuou brincando com as mamangavas. Desta vez as
imaginava como se fossem aviões de guerra fazendo seu abastecimento nas flores
de maracujá.
Seu Benedito começou a construir o
bidê prometido como prêmio para o neto. Aliás, ele não apenas deu a pipa a
Adrianhinho como também ensinou a fazê-la, pois era uma pipa que pouca gente
sabia fazer, muito complexa de construir, só em sua armação eram empregadas
vinte e duas varetinhas de bambu...
Ao final do mês, os pais de
Adrianinho chegaram de viagem e foram buscá-lo, mas o menino não queria ir
embora, queria ficar até o final de suas férias na casa do avô.
– Nossa! Que mágica seu avô fez para
você querer ficar mais? – Falou a mãe de Adrianinho.
– Vamos embora rapazinho. Lembra o videogame
que me pediu, eu o trouxe, está em casa te esperando. – Falou o pai.
– Não quero mais, eu quero é ficar
aqui. – Respondeu Adrianinho.
– O quê? – Perguntaram ao mesmo
tempo os pais do garoto que estavam completamente boquiabertos.
– Mãe, quero que deixe comigo a câmera
fotográfica. – Disse Adrianinho.
Os pais estavam perplexos com a
mudança do menino, afinal, há um mês atrás tiveram dificuldades em convencê-lo
a passar as férias com o avô. Por fim, Carlos e Gabriele se renderam aos apelos
do filho e o deixaram mais um mês com Seu Benedito.
Adrianinho não comunicou para seus
pais o que faria com a câmera que pedira. No restante das férias o gurizinho
continuou perseguindo mamangavas. Dessa vez, de câmera na mão, procurava os
melhores ângulos para tirar fotos dos singulares insetos. Toda noite mostrava
as fotos para seu avô e os dois selecionavam as melhores imagens e as
arquivavam. Até o avô entrou na brincadeira, agora eram duas crianças
fotografando mamangavas. Os dois combinaram em fazer um grande álbum, com
comentários e tudo. Quando chegou o final das férias Adrianinho e Seu Benedito
tinham feito um álbum com quase mil fotos de mamangavas. Daquele dia em diante, a cada feriado
prolongado, o menino exigia que os pais o levassem a casa do avô, e sempre que
ele escutava um zumbido de mamangava se lembrava das melhores férias de toda
sua vida.
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