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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

TIÃO ABATIÁ

 

Fonte: arquivo Gazeta do Povo

Tião Abatiá foi um abatiaense, morador do Norte Pioneiro do Paraná, que ficou famoso como jogador de futebol, especialmente por sua passagem no Coritiba, clube que o consagrou como um dos maiores ídolos da história. Seu nome ganhou destaque nos campos nos anos 1970, principalmente após uma vitória histórica contra o Santos de Pelé em 1971. Essa partida, onde Abatiá brilhou e foi reconhecido até pelo próprio Rei do Futebol, marcou o ápice da sua carreira e o catapultou para o estrelato.

Tião nasceu em 20 de janeiro de 1945 em Abatiá, iniciou sua carreira futebolística no Cambaraense, de Cambará, cidade vizinha. Em 1966, ele se transferiu para o União Bandeirante, onde foi vice-campeão paranaense em 1966, 1969 e 1971, sendo também o artilheiro do estadual nesse último ano. No mesmo ano, Tião se mudou para o São Paulo, mas disputou apenas uma partida pelo clube paulista que não teve dinheiro para pagar o passe.

Em 1971, Tião foi contratado pelo Coritiba, juntamente com Paquito, seu companheiro de ataque no União Bandeirante. Eles fizeram sua estreia no time alviverde da capital no domingo, 15 de agosto. No mesmo ano, Tião conquistou a Bola de Prata da revista Placar como o melhor centroavante do Campeonato Brasileiro. Ele permaneceu no Coritiba até 1975, quando foi emprestado à Portuguesa.

No ano seguinte, em 1976, o atacante retornou ao futebol paranaense, desta vez jogando pelo Colorado. No Campeonato Estadual daquele ano, Abatiá marcou 24 gols, superando por um gol seu ex-companheiro de ataque, Paquito, que foi o vice artilheiro pelo Grêmio Maringá.

Fonte: Coxanautas

Provavelmente, o personagem "Tião Abaterá", criado para a revista Zé Carioca em 1972, foi inspirado no nome de Tião Abatiá, devido à semelhança fonética entre os dois. O personagem, que aparece na história "Futebol não tem lógica", é retratado como um craque temido nos campos de futebol, refletindo a popularidade e a habilidade de Abatiá, mas agora no universo dos quadrinhos. Embora não tenha havido uma confirmação oficial dos roteiristas sobre essa inspiração, a coincidência é evidente, e muitos fãs reconhecem a homenagem feita a Abatiá, cuja fama certamente influenciou a criação do personagem.

Outra curiosidade marcante é que em 27/10/1971 a torcida do Coxa, gritava “Tião Abatiá é melhor que Pelé!” por conta da vitória obtida pelo seu gol contra o Santos.

Faleceu em 16/08/ 2016 aos 71 anos, e residia em Ribeirão do Pinhal, Norte Pioneiro do Paraná.

Coritiba, no início dos anos 70. Em pé, da esquerda para a direita: Pescuma, Hermes, Hidalgo, Célio, Cláudio Marques e Nilo. Agachados: Leocádio, jogador não identificado, Hélio Pires, Tião Abatiá e Rinaldo. Fonte: 3° Tempo


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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

RELATO DE UM FERROVIÁRIO SOBRE OS COMBATES ARMADOS OCORRIDOS EM AFONSO CAMARGO E QUATIGUÁ NOS DIAS 11,12 E 13 DE OUTUBRO DE 1930.


EPISÓDIOS DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO IRONIA DO DESTINO – LEVANTE DO NORTE DO PARANÁ – PRIMEIROS CONTINGENTES QUE PENETRARAM PELO RAMAL PARANAPANEMA – COMBATE EM AFONSO CAMARGO NO DIA 11 – HORAS DE ANGÚSTIA E DE PAVOR – COMBATES DOS DIAS 12 E 13 EM QUATIGUÁ – CONSIDERAÇÕES – EFEITOS DA METRALHA – CONCLUSÃO 

 Quando em julho de 1930 estávamos ainda no Rio Uruguai notamos o que ia pela fronteira Santa Catarina – Rio Grande, pois soubemos que a revolução estouraria em 5 de julho, depois tornamos a saber que romperia em 14 do mesmo mês, por ser a esse tempo feriado nacional; então protestando doença embarcamos sem passe e sem licença em nove desse mês para escapar de sermos apanhados pela revolução, longe da família querida. Chegados a Ponta Grossa nada dissemos ao nosso chefe e amigo, para não sermos taxados de boateiros. Tínhamos quase certeza do advento da revolução porque o governo do Paraná mandou até aquelas paragens um empregado da repartição central de polícia que ali se apresentou com a capa de empregado ferroviário. Embora desconfiássemos, nada falamos a esse moço porque tínhamos certeza que ele nos responderia com evasivas para justificar a sua estadia, ora em Marcelino Ramos e Rio Uruguai, ora em Porto União e Curitiba. A nossa fuga de Rio Uruguai nos custou 30 mil réis e multa, e só demos por isso quando recebemos o envelope tuberculoso do pagamento de julho. Se não fosse estarmos tão longe teríamos feito uma reclamação ao... Bispo! Irrompeu a revolução em 3 de outubro. Ficamos todos trazidos de pânico quando vimos aeroplanos voando sobre as nossas cabeças quais águias prestes a nos arrebatar pelos ares à fora nas suas garras de aço. Fugimos ao perigo que se nos deparava no sul e viemos cair na boca do lobo assistindo aos combates dos dias 12 e 13 em Quatiguá. Das contingências da sorte não há quem possa fugir! Ironia do destino! 

Uniforme do Exército Brasileiro em 1926. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/708542953868435313/


Três de outubro precisamente, levantou-se no nordeste paranaense um por zelo de visionários que sabedores das combinações que da senha: “Bento Gonçalves” tomaram conta da máquina e vagões da composição do trem misto Barra Bonita – Rio do Peixe, prendendo em Barra Bonita o influênte chefe político Sr. Júlio Pedro Ferreira e seu empregado Lulu Lobo, os quais passaram presos para Jaguariaíva onde esses nóveis revolucionários os entregaram as forças gaúchas que já se encontravam ali. Dizem as crônicas que foi o primeiro lugar em todo o Brasil que desfraldou a bandeira da rebelião, nesse dia memorável nos factos do Brasil, no o nordeste paranaense, na próspera localidade de Barra Bonita. Foram heróis desses fatos os doutores doutores Átila Muniz Freire; Djalma Ferreira Lopes; Osvaldo Amaral; Srs. Paulo da Rocha Chueire e Salvador Rodrigues que com elementos que nunca faltam nessas ocasiões organizaram um batalhão patriotico, se esse nome se possa dar a um ajuntamento sem ordem e disciplina que andou por todas as localidades vizinhas requisitando tudo, mas nunca querendo ter contato com o inimigo. Para salvar o decoro dalguns diremos que abandonaram o batalhão a sua sorte retirando-se do mesmo os seguintes cidadãos Dr. Átila Muniz Freire, Dr. Djalma Ferreira Lopes, Dr. Oswaldo Amaral e o Sr, Paulo Rocha, este último foi, em seguida, pelos cabos revolucionários, nomeado comandante da praça de Colônia Mineira. Ficou o batalhão sobre o comando do senhor Salvador Rodrigues, mas devido ter se cercado de maus elementos, os quais não queriam queria desgostar, viu seu esforço nulificar-se a ponto de se ver perseguido, finda a revolução, pelo seus próprios companheiros de ideais. De ordem superior fomos até a Barbosa auxiliar serviço, fazendo o trajeto de Cerradinho àquela estação, 18 km, por montes e vales em 4 horas, pois saímos às 8 horas da manhã e às 12 horas já tínhamos atingido o fim de nossa jornada. Isto sucedeu em 10 de outubro, em noite de 9 havia passado por aquela estação rumo ao noroeste paranaense uma força revolucionária ao mando do Major Marinho, primeiro contingente que se atreveu a ir de encontro às forças paulistas, que já haviam transposto o Paranapanema e Ourinhos e ameaçavam invadir, como invadiram as povoações e cidades vizinhas. Em à noite de 11 à meia-noite três e quartos passou por Barbosas o segundo contingente revolucionário, sobre o comando do capitão Feio, que de feio, só tem o nome, porque um lagatão bem parecido, só por metáfora ou paradoxo poderá se chamar feio! 

"ESSA É A FORÇA IA ACUDIR A MAJOR MARINHO QUE NESSA TARDE HAVIA, EM DEFENSIVA EM AFONSO CAMARGO, SE DEBATIDO COM FORTE CONTINGENTE PAULISTA"

recuando em seguida para Quatiguá devida a posição ali ser insustentável. Recuando a força do Major Marinho para Quatiguá, a força Paulista veio no dia 12 pelas 14 horas da tarde ao seu encalço travando-se então forte renhido combate que se prolongou pela noite afora até que, pedido reforço com urgência foi em seu socorro a força do coronel Alcides Etchigoyen, que chegou ainda há tempo de sustar o sítio de Quatiguá e o seu completo aniquilamento, porque as forças paulistas compostas de 2500 homens, era superior as forças do major Marinho. Outra vez de ordem superior, fomos designados para ir auxiliar serviço em Quatiguá; para ali embarcamos na tarde de domingo 12 de outubro, embora soubéssemos pelo telégrafo que Quatiguá estava fedendo enxofre! Nesta tarde às 17 horas passou por Barbosa dois comboios com forças revolucionárias sobre o comando do Coronel Alcides, este valoroso soldado da revolução pretendia pernoitar e dar descanso a sua gente essa noite em Colônia Mineira, mas ali chegando recebeu do campo da luta novo pedido de reforços de homens armas e munições porque as que tinham na arrecadação não daria para sustentar nem mais seis horas de fogo! 

Imagem de IA

Nessa dura contingencia o coronel Alcides depois de conferenciar em particular com o Sr. Paulo da Rocha Chueire já então comandante da praça, e se reunir em sessão secreta o seu Estado Maior, disse ao pessoal ferroviário – avante! A essa voce partimos de colônia mineira, rumo a Quaguá às 18 horas; o sol e esse pondo escondendo-se robro como que demonstrando que a essa hora estava correndo o sangue generoso de tantos infelizes que se batiam cumprindo seu dever, pois eram soldados do governo constituído e outros defendiam o seu ponto de vista, eram visionários, batiam-se pelos seus ideais! Os comboios arrancaram lentamente e lentamente prosseguiram pela linha afora, até que perdemos de vista o belo panorama da próspera e bela cidade, Colônia Mineira, essa joia de alto valor lapidada pelo trabalho e operosidade dessa boa gente mineira – paulista, factores indiscutíveis da crescente prosperidade do norte de nossa terra dadivosa, generosa e boa! Aquem de Quatiguá o coronel Alcides, num desprendimento pela vida, foi para cabine do maquinista de “parabellum” em punho, sendo acompanhado nesse gesto pelo seu assistente, o nosso distinto conterrâneo 1º Tenente Stoll Nogueira, que no dia seguinte devia devia, ser pela sua operosa atividade, a alma da vitória . Dissemos isso porque sem um bom e operoso assistente, torna-se nulo todos os esforços de um comando. Todas as ordens emanares do coronel Alcides Etchogoyen, era pelo tenente Stoll Nogueira executadas com presteza, fazendo o remuniciamento do pessoal em fogo, com celeridade e segurança, fazendo-se o revezamento de pessoal com todo o cuidado para que o combate fosse vitorioso como de fato foi. Na manhã de 13 onde tantos infelizes perderam a vida ou ficaram mutilados, numa luta inglória, porque

"INGLÓRIA SÃO TODAS AS GUERRAS E LUTAS, ENTRE OS FILHOS DA MESMA PÁTRIA!"

Próximo de Quatiguá, 5 km apenas, o coronel Alcides mandou aos comboios fazerem alto, apagarem os faróis das locomotivas, desembarcar 150 praças no primeiro comboio e 150 no segundo 

"E COM ESSES 300 HOMENS FOI ATÉ AS LINHAS DE FOGO EM QUATIGUÁ, AJUDAR O MAJOR MARINHO RECHAÇAR AS FORÇAS PAULISTAS QUE JÁ HAVIAM QUASE SITIADO O MODESTO LUGAREJO, guindado por um golpe do destino, numa praça de guerra. PARA NÓS E DEMAIS FERROVIÁRIOS QUE NÃO ESTÁVAMOS AFEITOS ÀS LUTAS À MÃO ARMADA, O PIPOCAR DA FUZILARIA, O GARGALHAR SINISTRO DA METRALHA, QUE SE OUVIA DISTINTAMENTE DO LOCAL ONDE NOS ACHAVAMOS NOS CAUSAVAM PAVOR. "


Por vezes nos arrependemos por que não recusamos ordem e não fiquemos em casa, aguardando no aconchego da família, o desfecho dessa luta fratricida, que felizmente já passou para o rol das coisas consumadas. 

"FORAM HORAS DE ANSIEDADE, HORAS DE DESESPERO, HORAS DE ANGÚSTIA, AS QUE PASSAMOS NUMA RETA DA FERROVIA, PERTO DE UMA ESTRADA DE RODAGEM E NO MEIO DE UMA CAMPINA ABERTA ONDE PODERÍAMOS SER CHACINADOS PELA FORÇA PAULISTA."

O pavor crescia de ponto, quando se pensava na possibilidade de sermos atacados pela retaguarda por uma estrada que de Quatiguá vai a Colônia Mineira. Quando lembramos desses momentos de ansiedade e de incerteza, ainda nos bate acelerado o coração: porque seríamos fatalmente trucidados, visto que a escuridão da noite, favorecia um sertida das forças Paulistas, que primeiro podiam nos esmagar e depois atacar a retaguarda da força do coronel Etchigoyen! Esse valoroso cabo de guerra da revolução antes de ir até a linha de fogo em Quatiguá, colocou vedetas nos pontos perigosos, e metralha revolucionária, varreria todos aqueles que tentassem agredir-nos. Mas isso nós civis não sabíamos e por isso a tremedura da maleita nos atacou fora de horas... 

"FINALMENTE, ÀS 23:00 A FORÇA REGRESSOU INCÓLUME DA REFREGA E NESSE INSTANTE OS COMBOIOS SE PUSERAM EM MARCHA VAGAROSA ATÉ ATINGIR QUATIGUÁ, PARANDO AMBOS NA LINHA PRINCIPAL DE FONTE A PLATAFORMA DA ESTAÇÃO; DE ONDE AINDA SE ESCUTAVA AO LONGE O DEFLAGRAR DOS FUZIS EM TIROS ESPAÇADOS ENTRE A FORÇA PAULISTA RETIRANTE E A REVOLUCIONÁRIA QUE OU A PERSEGUIA OU HAVIA TOMADO POSIÇÃO ENTRICHEIRANDO-SE NOS CAFEZAIS VIZINHOS E ISSO CONTINUOU PELA NOITE TODA, COMO QUE AVISANDO O INIMIGO QUE NÃO SE APROXIMASSE"

, porque os soldados da revolução estavam alertas e todos em seus postos, prontos a venderem bem caro a sua pele. Chegamos a meia noite e quinze em Quatiguá. Tendo o coronel Alcides dado o começo, sem perda de tempo, a organização do plano de defesa da posição, 

"DANDO ORDENS PARA QUE NAS CRUZETAS DO LIGAMENTO QUE SUSTENTAVAM A COBERTA DA ESTAÇÃO FOSSEM COLOCADAS DUAS METRALHADORAS PESADAS UMA NO FLANCO DIREITO E OUTRA NO FLANCO ESQUERDO."

Esse serviço foi feito às vistas do Coronel Alcides de do capitão Pery, (se não me falha a memória), que chamou o correntino cabo Tedesco que ainda perguntou se as metralhas eram contra avião. Ao que respondeu que não era para essa espécie de inimigos, mas para ser usados em sentido horizontal. 

"TRABALHOU-SE A NOITE TODA, NINGUÉM DORMIU, SALVO AQUELES QUE, RENDIDOS, RETIRARAM-SE DO COMBATE, OU ESTAVAM EXAUSTOS RECUPERANDO FORÇAS."

Quem escreve essas linhas, carregou tábuas, retiradas de um carro gaiola da firma Matarazzo, juntamente com o Dr. Osvaldo Amaral, para que com as ditas tábuas serem feitos suportes para as metralhadoras e para os sacos de areia que seriam o resguardo do pessoal metralhador. 

"AS FORÇAS PAULISTAS TAMBÉM NÃO ESTAVAM INATIVAS, ELAS TAMBÉM SE MOVIMENTAVAM, PORQUE SE OBSERVAVA-SE CAMINHÕES E CAMINHÕES CHEGAREM DE LUZ ACESA ATÉ ENCRUZILHADA QUE VEM DE AFONSO CAMARGO ATÉ A ESTRADA DE MUZILLO A QUATIGUÁ. "

Lembramos que o coronel Etchigoyen, intrigado com tanto chegar de autos e apagando que é pagamento de luz e disse: – que diabos estão fazendo aquela gente? Ele mesmo respondeu: "se eles não nos atacarem ainda esta madrugada, não perderão tempo em esperar, amanhã cedo tocaremos o Zé Pereira em cima deles que há de sair lascas! Esse dito jocoso do coronel Alcides fez sussurro entre os soldados e paisanos presentes, causando hilaridade. De fato, na manhã de 13, pelas 5 horas, tudo pronto, 

"TODOS A POSTOS, OFICIAIS E SOLDADOS, CADA UM PREPARADO PARA VENCER OU MORRER, COMO DIZIA OS LEMAS ESCRITOS DOS SEUS BONÉTS, AGUARDAVAM SOMENTE A VOZ DO COMANDO PARA ROMPEREM HOSTILIDADE."

O coronel Etchigoyen junto ao aparelho telegráfico da estação recebia instruções via telegráfica do Estado Maior, ainda em Ponta Grossa. O coronel Alcides, seus oficiais e soldados de confiança, não dormiram nada, tão atarefados estiveram em colocar metralhadoras e sacos de areia no telhado da estação. 

"ÀS 5:55 DA MANHÃ, AS FORÇAS PAULISTAS ROMPERAM O FOGO CONTRA OS REVOLUCIONÁRIOS, QUE ESTAVAM NA ESTAÇÃO DE QUATIGUÁ E ADJACÊNCIAS ONDE SE ACHAVAM AS LINHAS DE ATIRADORES MASCARADOS NOS CAFEZAIS VIZINHOS."

Numa pequena elevação de terreno à direita da linha férrea, achava-se camuflada numas toiceiras de bananeira, a artilharia sobre o comando o major Nelson Etchigoyen, que havia chegado a tempo de tomar posição de combate às quatro horas da manhã. 

"O CREPITAR DA FUZILARIA ERA CONTÍNUA; AS METRALHADORAS DE LADO A LADO, NÃO CESSARAM SUAS GARGALHADAS TREMENDAS, APAVORANTES. NÃO OUVIA-SE NADA, QUE NÃO FOSSE O SIBILAR DAS BALAS ZUMBIMDO COMO ABELHAS, POR CIMA DAS NOSSAS CABEÇAS! "

Só se ouvia o fragor do combate, como se estivesse pegando fogo grande extensão de taquaral; nem um um toque de corneta se escutava nas horas longas do combate; parecia que tudo estava correndo a revelia das forças em ação! Quando a força Paulista mandou efetuar uma carga de cavalaria contra as posições revolucionárias e foi então que 

"O MAJOR NELSON ETCHIGOYEN, FALOU PELAS BOCAS DOS CANHÕES... O PRIMEIRO TIRO CAIU NO MEIO DA CAVALARIA PAULISTA ESPALHANDO-A POR TODOS OS LADOS;"

não esperaram o segundo baterem retirada, o segundo caiu no meio dos caminhões de víveres e munições; foi um desastre para eles! O combate continua encarniçado, nele crepita a fuzilaria; as metralhas continuam as suas gargalhadas de monstros, quaes molocs da lenda, sempre sedentas de vítimas para os seus sinistros repastos; 

"ASSIM SÃO AS GUERRAS, ASSIM SÃO AS EVOLUÇÕES QUE TUDO DERRIDAM, TUDO ESFACELAM E QUASE NADA CONSTROEM EM BENEFÍCIO DA HUMANIDADE!"

O coronel Etchigoyen não descansava, de binóculo nos olhos, junto à sua metralhadora que era municiada e às vezes acionada pelo incansável correntino cabo Tedesco e outras vezes, sem parar, acionada pelo próprio comandante Etchigoyen. Ao lado direito outra metralhadora moniciada por simples soldados era adicionada pelo Valente Capitão Perry que, juntamente com sua companheira fatídica, faziam estragos nas fileiras das forças paulistas. Entraram em ação, nesse dia memorável para a revolução os seguintes oficiais: capitão Feio; Nelson Etchigoyen; Prado; Arísio; Isaac Monte, Peri; tenentes Lucena; Barbosa, Cid França; Mena Barreto e Apera, este último, alemão comandante da companhia de lança Minas, afóra outros oficiais cujos nomes não nos foi possível colhê-los, na balburdia de um fim de combate. 

"SE NÃO FORA O CORONEL ALCIDES ETCHIGOYEN TER PENETRADO A TEMPO RAMAL PARANÁPANEMA A DENTRO, NO DOMINGO, 12 DE OUTUBRO, AS FORÇAS PAULISTAS TERIAM FORÇOSAMENTE ESMAGADO QUATIGUÁ, ATINGIDO A COLÔNIA MINEIRA, BARBOSA, WENCESLAU BRAZ, "

então a luta seria terrível entre Jaguariaíva e os faxinais de São José do Paranapanema e os campos de Cachoeirinha; facilmente fariam ligações com as forças de Itararé por São José do Cristianismo ou mesmo por Santa Cruz dos Lopes. Nós por aqui teríamos que sofrer a pressão dos beligerantes, seríamos fatalmente reduzidos a condição a condição de sanduíches e seríamos comidos por um ou outro lado dos exércitos em luta! Terminou as 10:55 da manhã quando o coronel Alcides observou pelo binóculo que as forças paulistas tinham abandonado o campo de luta, falando esta frase picaresca: "olhem lá rapaziada, a macacada bateu em retirada"! Notamos que regressaram das linhas de fogo vários ferroviários entre eles o agente e telegrafista de Wenceslau Braz, Sr. Júlio Pereira e o Sr. Raul Vieira que não tendo serviço no telegrafo foram exercitar os dedos nos fuzis. Também vimos o chefe de trem Cândido Neves regressar são e salvo, só com a cara muito feia, das minhas de combate, parecendo que não tinha achado muito muito bom, esse prato amargo da revolução – o combate. O combate cessou por completo às 10:55 da manhã, quando o coronel Alcides chamou pelo Tenente Stoll Nogueira, a quem deu ordem para ser mandada gente apta a aprender grande quantidade de autos-caminhões, material bélico, víveres e munições. Foi boa presa de guerra feita nesse dia, 

"FOI GRANDE A QUANTIDADE DE SOLDADOS DA POLÍCIA PAULISTA E PÁTRIA AMADA FEITOS PRISIONEIROS,"

bem assim, oficiais dessas corporações bem como um segundo tenente da Carta Geral que também foi feito prisioneiro. A força Paulista perdeu muita gente devido as péssima posição em que se achavam e ser a maioria da sua gente bisonha. Dizem que até pegados a laço nas cidades paulistas e virem a ser sacrificada no açougue revolucionário! Também vimos um capitão da força Paulista, moço, uns 20 anos presumíveis, e bastante ferido neste mortífero combate de 13 de outubro. Vimos o coronel Etchigoyen mandar fornecer doces de confeitaria a todos os oficiais caídos prisioneiros e bóia a todas as praças nas mesmas condições, porque todas as praças se queixavam de estarem sem alimentação há muitos dias e fazendo grandes percursos e marcha forçada. 

"FORAM SEPULTADOS OS MORTOS DE AMBOS OS LADOS E RECOLHIDOS OS FERIDOS AO HOSPITAL DE SANGUE IMPROVISADO NUM CARRO DE PASSAGEIRO DA ESTRADA DE FERRO. "

Os estragos feitos pela metralha são terríveis, são horrendos: a metralha é uma arma terrível, onde ela atinge deixa o rastro tenebroso de sua bárbara passagem, 

"A METRALHA DEVIA SER PROIBIDA PELAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS; NÃO É UMA ARMA, É UM INSTRUMENTO DIABÓLICO DE DESTRUIÇÃO;" 

onde bate a sua dantesca rajada, vai tudo raso, fica tudo em frangalho, estraçalhado! 

"QUEM ARQUITETOU E INVENTOU SEMELHANTE MÁQUINA DE GUERRA POR CERTO NÃO ERA CRISTÃO E NESSE INSTANTE ESTAVA ASSISTIDO E INFLUENCIADO PELO DIABO!"

Vimos um soldado da polícia paulista mutilado por uma rajada de metralha; o desgraçado apanhou em cheio no rosto e na mão direita; o rosto ficou deformado, a mão direita ficou só com o polegar intacto e os outros dedos se foram na voragem da metralha! A mão era uma palmatoria, o cabo era o polegar intacto, os nervos da mão, todos de fora pareciam um fiapos de algodão pendentes da mão esfacelada!

"ESTAVA HORRÍVEL DE SE VER! QUE QUÉR: SE A LEPRA DA POLITICAGEM ASSIM DETERMINA; ASSIM QUE SEJA"

para engrandecimento e prosperidade, da terra onde nascemos! Esses coitados, nas horas bonançosas da paz, ainda cantam “nós somos da pátria amada...! Nada fizemos que merecesse menção; só cumprimos nosso dever de ferroviário, obedecendo as ordens do nosso chefes contribuindo com o nosso contingente de esforços para que os nossos superiores não fossem suspeitos aos olhos dos generais da revolução. Por esse pequeno sacrifício nada pedimos porque pensamos que se a revolução for pagar a todos que trabalharam desinteressadamente ou não pela vitória da causa, nem o Amazonas correndo ouro sem parar terá elementos para premiar aos que se dizem patriotas e salvadores da nossa pobre. mas querida nacionalidade. Terminados depomos por sobre a campa do humilde soldado sacrificado nos combates de Afonso Camargo, dia 11; e 12 e 13 em Quatiguá um ramo de cipreste e um ramalhete de goivos em respeito e admiração que nos merecem sua memória, pois tombaram defendendo cada um o seu ponto de vista cumprindo o seu dever! 
 Cerradinho, 13 de outubro de 1931. 
 Adaucto Ferreira




Adendo: Este relato foi publicado no Jornal "O Dia" e pode ser consultado na Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional. 

Abaixo disponibilizo as imagens dos recortes dos jornais a que me refiro.







sexta-feira, 20 de setembro de 2024

DESTINO AO ALÉM (Lendas e contos populares)

 




    Na década de 1980, numa noite aparentemente normal na PR-92, nas terras entrecortadas pelas montanhas baixas do Norte Pioneiro do Paraná um grupo de universitários retornava de Jacarezinho para Wenceslau Braz.

    O velho ônibus que os trazia apresentou uma pane mecânica, quer por coincidência do acaso, quer por seu estado precário. O motorista teve que parar no acostamento. Era quase meia-noite e a estrada estava deserta, envolta em um silêncio, ora entrecortado pelo farfalhar do vento e corujas estridentes. O desespero começava a se infiltrar entre os passageiros mais receosos, até que, ao longe, se aproximava os faróis do que parecia ser um ônibus, rasgando a escuridão.

    Era um coletivo da Viação Garcia, puderam ver, que se aproximava vagarosamente. O veículo reluzia sob a luz da lua. O motorista, um homem de feições gentis, parou e ofereceu ajuda aos universitários. Aliviados, os estudantes embarcaram no ônibus. Mas menos de dois quilômetros a frente, o alívio deu lugar à estranheza.

    Os estudantes observaram que os demais passageiros estavam estranhamente  vestidos de branco, mantinham-se em um silêncio sepulcral e encavam o vazio à frente de seus olhos. Não se ouviam risos, nem murmúrios, nem o tilintar de bolsas ou chaves. Apenas o ronco baixo do motor, que ecoava por entre os corpos estáticos. Havia também um cheiro doce no ar, algo um tanto indefinido, como flores murchas misturadas ao leve odor de incenso queimado.

    Durante a viagem, os universitários trocaram olhares, inquietos. Algo não parecia certo. O clima no ônibus era pesado, como se carregasse uma história mal contada, um segredo sombrio preso entre seus assentos. Cada quilômetro percorrido aumentava a sensação de que estavam deslocados, como se estivessem atravessando uma fronteira invisível.

    O que significaria, aquilo, um bando de pessoas que seriam transportadas ao hospício? Todos de branco, ninguém falava com ninguém, e ninguém nos fitava, nem sequer mudavam de posição e permaneciam como se estivessem olhando para o além.

    Quando desembarcaram do ônibus os universitários sentiram um grande alívio. Embora estivessem agradecidos pela carona, também estavam agradecidos por terem saído daquela atmosfera esquisita e assustadora.

    No dia seguinte, uma das jovens estudantes, grata pelo transporte, decidiu ligar para a Viação Garcia para agradecer pela carona salvadora. Ao descrever o ônibus e o motorista gentil, a atendente, do outro lado da linha, ficou em silêncio.

    Um instante depois, com a voz embargada, a atendente revelou que a empresa Garcia não tinha linha usual entre Jacarezinho e Wenceslau Braz e que o ônibus descrito havia se acidentado na mesma noite, nas imediações de Cornélio Procópio. Além disso, o motorista e todos os passageiros que estavam a bordo haviam morrido, sem exceção.

    O sangue da jovem gelou e ela sentiu uma forte tontura por uns dez segundos, até que, arrepiada começou a pensar. "Como poderia ser? Eles haviam pegado carona naquele ônibus que estava indo ao além. Será que estavam indo ao além vida? Conversamos com o motorista, respiramos aquele ar estranho borrifado a perfume de rosas, vimos as roupas brancas e os olhares para a imensidão, como se estivessem vislumbrando o nada, exceto o motorista, por assim dizer, parecia normal, mas, pensando bem, estava de roupas brancas também, porém, no momento todos acharam que era o uniforme da Garcia."

    Definitivamente, o ônibus que os havia resgatado não mais era um simples coletivo – era um mensageiro de almas, transitando entre o mundo dos vivos e o reino dos mortos, talvez em busca de companhia ou, quem sabe, de um último trajeto pela estrada que um dia fora seu destino final.

    A mesma aluna que ligou para a empresa, por vias das dúvidas, resolveu encomendar uma missa para os passageiros falecidos no acidente com o ônibus da Garcia, afinal, quem sabe não era isso que queriam em troca da gentil carona.

    Esta história permaneceu em segredo por um bom tempo, isso porque os estudantes achavam absurdo demais comentar, porém algum dia alguém resolveu revela-la ao jornal folha extra.




Este conto é uma adaptação da história "Ônibus Garcia" contido no Jornal Folha Extra, na coluna "Lendas do Interior".


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Santa Tita - Primeira Santa da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América Latina

Ícone Santa Tita e as 8 Crianças

A professora Maria Aparecida Beruski, conhecida entre os Ucranianos Ortodoxos, como a "mártir de Joaquim Távora", faleceu em 1986 junto com oito crianças na escola rural do Bairro Colônia São Miguel, município de Joaquim Távora, Estado do Paraná. 

É um história de dor e sofrimento, mas também de heroísmo, coragem, de fé e de exemplo de vida.

Segundo Jesus, não há exemplo maior de amor do que doar a vida por seus irmãos.

Maria Aparecida consumou essa palavra na prática, uma vez que ao invés de tentar em primeiro lugar se salvar. Começou a retirar as crianças que pode pela janela e quando não deu mais para salvá-las, morreu abraçada com as mesmas em um ato de amor incondicional e de proteção para com seus alunos.

Em 4 de abril de 1986, na Colônia São Miguel, em Joaquim Távora, enquanto lecionava, o botijão de gás que Maria utilizava em um fogareiro para preparar a sopa para o lanche de seus treze alunos, posicionado na única porta da escola, transformou-se acidentalmente em um lança-chamas, que acabou por incendiar a sala da escola, a qual era feita de madeira. No entanto, a professora, com o fim de salvar seus alunos, se recusou a deixar o local, conseguindo assim passar as cinco crianças menores pela janela, mas as outras oito não. Maria Beruski morreu carbonizada junto dos últimos oito alunos e entre os escombros da sala foi encontrado seu corpo, abraçada com as crianças.[4] Além da professora, as vítimas fatais eram: Tereza Luiz Rosa, de 13 anos, Carlos Luiz Rosa, de 11, Amaury M. de Queiroz, 9, Lucélia Glomba, de 8 anos, Lucimeire Borandelik, 8, Salomão Bachtich, 8, Laert Luiz Rosa, 7, e Alexandra Marim[5], de 7 anos.[6] Como o desastre teve grande impacto na região, os moradores locais começaram a orar pelas vítimas e pedir sua interseção, em culto privado, criando, dessa forma, um vínculo religioso de devoção e santidade popular, sobretudo em torno de Maria Aparecida Beruski. (Wikipédia 2023)

Maria Aparecida Beruski (Santa Tita)
O relato a seguir é interessante:

"A escola era como se fosse um salão. De repente, a botija explodiu e as chamas se espalharam muito rapidamente. O calor era insuportável. Eu era um garoto muito ligeiro e consegui sair por uma pequena janela. Já do lado de fora, puxei outros colegas. Mas, infelizmente, não foram todos que conseguiram fugir'', relembra o agricultor Celso Leonel Carvalho. Na época, ele tinha 12 anos e foi a primeira das cinco crianças que conseguiram se salvar.  (Blog Universo Ucraniano)

''Ela tinha 27 anos. Era uma pessoa muito bondosa. Amava seus alunos. Já faz algum tempo, mas para nós parece que a tragédia aconteceu ontem. Minha sobrinha deu a vida por seus alunos. Vendo o prédio pegar fogo, ela preferiu ficar com as crianças, ajudando a salvar algumas, do que fugir das chamas. É uma mártir, mas agora o nosso bispo quer canonizá-la'', comenta Maria Miskalo. (Blog Universo Ucraniano)


Túmulo de Maria Beruski e seus alunos.

Início da glorificação

Após sua morte, Maria passou a ser localmente venerada como uma mártir, tanto por seu extremo exemplo de amor como pelos milagres que foram relatados em seu túmulo, em Joaquim Távora. Em 2007, Dom Jeremias Ferens relatou que sua diocese havia reunido diversos relatos de milagres em uma hagiografia, entre eles os casos de uma pessoa curada de alergia e de uma criança que tomou querosene por engano e escapou da morte, e planejava encaminhar o processo de sua glorificação junto com o das oito crianças que morreram com ela, o que faria dela a primeira santa ortodoxa latino-americana formalmente glorificada, a ser comemorada no dia 4 de abril. (Wikipédia 2023)

Pe. em visita ao sepulcro
Assim sendo, levando em consideração a devoção do povo, a Igreja Ortodoxa deu início ao seu processo canônico internamente em 2005 e, em 2007, foi concluído um dossiê de treze páginas, escrito pelo seminarista Fabio Lins, da Igreja Ortodoxa Ucraniana, e este documento enviado para o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla para o início do processo de canonização, de modo que a resposta final era prevista para demorar de um a três anos.[4][7] O dossiê contém informações coletadas entre 11 e 14 de outubro de 2005, em Joaquim Távora, sendo estas relatos de testemunhas que falam sobre a vida de Maria Aparecida, preces e anotações da mesma, além de serem apresentados nele as interseções e milagres da possível santa.[7]

O bispo local da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América do Sul, Dom Jeremias Ferens, declarou, em sua entrevista para a Revista Mundo e Missão que, dentro da Igreja Ortodoxa quem elege alguém como santo ou santa é, primeiramente, o povo, não a hierarquia eclesiástica, como vista na Igreja Católica. O eparca continua sua entrevista afirmando ainda que a população local de Joaquim Távora, que conviveu e conheceu Maria Aparecida Beruski, atesta sua vida de santidade e seu ato heroico. Sendo assim, esse foi o primeiro passo para a iniciação do processo canônico de Tita na Igreja Ortodoxa, a aclamação popular. (MELNIK 2017)

No intuito de reforçar a santificação e reconhecimento de Tita para conclusão do processo canônico, está localizado na Igreja Ortodoxa Ucraniana São Demétrio, um ícone feito pelo pintor Michel Kapelhuk, em 2004.(MELNIK 2017)

Caso queira se aprofundar mais recomento um interessante Estudo sobre o processo de canonização de Santa Tita. 

                                                                        

                                                                        Adendos


A Igreja Ortodoxa Ucraniana é uma tradição cristã com mais de mil anos de história na Ucrânia. Ela segue a liturgia e as práticas ortodoxas orientais, com uma hierarquia de bispos e paróquias organizadas em dioceses. Recebeu autocéfalia (independência) em 2018, sendo influente na identidade cultural e política do país.

Melnik 2017 afirma que Maria Aparecida Beruski está no processo de canonização pela Igreja Ortodoxa, ou seja, ainda não é santa pelas diretrizes oficiais dessa instituição. 

Não encontrei informações atualizadas sobre se o processo de canonização foi concluído ou não.

Infelizmente, segundo Melnik (2017) o dossiê do processo do processo de canonização não permite acesso público.


Referências:

https://tcconline.utp.br/media/tcc/2018/10/O-PODER-DA-RELIGIOSIDADE-POPULAR.pdf

https://ucrania-mozambique.blogspot.com/2007/10/ucraniana-primeira-santa-da-amrica.html

https://www.johnsanidopoulos.com/2018/04/maria-berushko-of-brazil-and-eight.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Aparecida_Beruski


Correio de Notícias
5/4/1986


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

As diferenças entre os "Monges" João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Agostinho

As três figuras são usualmente confundidas e fundidas na pessoa do monge João Maria. Estes homens transitaram  na região sul do Brasil entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Numa época de grande dificuldade social, e ausência de recursos, principalmente nas regiões interioranas. As pessoas procuravam a cura nos milagres, único recurso disponível a essa gente necessitada de tudo. Com a pratica comum entre eles, de  aconselhamento cristão, rezas, cura por ervas e fontes de água benta, aliados à figura eremítica que os caracterizavam, chamavam atenção onde passavam, ganhando muitos adptos ou devotos. Cada um deles contém histórias incríveis. Abaixo descreveremos resumidamente a diferença de cada um deles.

Foto tirada em Havana, Cuba em 1861



João Maria de Agostini. De origem italiana, chegou às Américas em 1838, vivendo em várias regiões do Brasil, incluindo o Rio de Janeiro, Santos, Sorocaba e Rio Grande do Sul, onde introduziu o culto a Santo Antão. Sua prisão foi decretada em 1848, forçando-o a se refugiar. Retornou à província em 1851, enfrentando conflitos devido a seu discurso contra a escravidão. Buscou passaporte para o Paraguai em 1852, sendo avisado para deixar a província em 30 dias ou enfrentaria prisão e deportação. Seu paradeiro, foi revelado por informações de dois livros. Após deixar o Brasil, passou por Paraguai, Argentina, Chile, Bolívia, Lago Titicaca, Peru e América Central, sendo preso no México em 1859. Deportado para Cuba, foi recebido com entusiasmo e tirou uma famosa foto em Havana. Viajou para Nova York, Canadá e, finalmente, para o Oeste dos EUA. Viveu como eremita no Novo México até 1867, quando se dirigiu para Mesilla, onde foi assassinado em abril de 1869 por possíveis índios Apaches em guerra contra a ocupação branca. Seu corpo está enterrado no cemitério católico de Mesilla, a 80 quilômetros da fronteira com o México. 


O segundo monge, João Maria de Jesus, apareceu no Paraná e Santa Catarina entre 1886 e 1908. Ele utilizava os mesmos métodos do primeiro monge, João Maria de Agostini, praticando curas com ervas, aconselhamento e uso de água de fontes. Acredita-se que seu verdadeiro nome seja Atanás Marcaf de origem Siria e de ascendentes gregos. Em 1897, ele afirmou: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho, percebendo claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, sem pousar na casa de outros. Vi isso claramente". Existem divergências sobre seu desaparecimento, com algumas fontes indicando cerca de 1900, enquanto outras mencionam 1907 ou 1908. A semelhança entre os dois monges era tão marcante que as pessoas os consideravam como uma única figura, afirmando que o "profeta" contava com 180 anos. Este monge tem passagem comprovada na cidade de Carlópolis, tendo uma capelinha em sua homenagem. Há relatos que também passou por Guapirama. Fica aqui a sugestão para que se faça uma pesquisa onde mais tenha passado no Norte Pioneiro do Paraná.


José Maria e suas virgens videntes.
José Maria de Jesus apareceu em 1911 em Campos Novos (SC) e, segundo alguns historiadores, era um ex-militar. De acordo com um laudo policial de Vila de Palmas, no Paraná, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena de Boaventura, um soldado desertor condenado por estupro. Ele afirmava ser irmão do primeiro monge e adotou o nome de José Maria de Santo Agostinho. Apesar de usar métodos semelhantes de cura, diferenciou-se ao organizar agrupamentos, fundando os "Quadros Santos" e os "Pares de França".  Diferentemente de outros dois monges, José Maria tinha seguidores em procissão e aceitava doações por seus conselhos e receitas. A região era cenário de disputas territoriais e, acusado de buscar a volta da monarquia, o Governo Estadual de Santa Catarina pediu intervenção, interpretada como afronta pelo Governo do Paraná. Uma força militar liderada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá invadiu o "Quadro Santo" de Irani (SC), resultando na morte em combate do monge José Maria e do coronel, marcando o fim do ciclo dos monges e o início da Guerra do Contestado.


Enfim, podemos chamar o primeiro de monge propriamente dito, o segundo de místico ou curandeiro e o terceiro de revolucionário.

Adendo:

Quadros Santos representava uma praça de formato retangular onde uma igreja estava situada, e em cada um dos quatro cantos, grandes cruzeiros marcavam pontos significativos ao redor dela. A formação dos redutos resultava na criação de uma irmandade.

Quanto aos Pares de França, constituíam uma unidade de elite, composta por vinte e quatro cavaleiros altamente equipados, montando cavalos brancos ricamente adornados. Durante os confrontos, carregavam consigo um estandarte branco ou de outra cor, destacando uma cruz no centro.



sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O homem das sete orelhas. Um retrato do massacre dos indígenas. SAP/PR



A história ou relato que descreverei narra o quadro das caçadas que eram promovidas pelos ditos "desbravadores" e colonizadores destas terras do Norte Pioneiro do Paraná contra os índios caingangues, também chamados de bugres pelos habitantes locais. Uma realidade sangrenta e cruel, até impiedosa, e que muitas vezes é omitida do conhecimento popular. Vejamos:

 O Homem das Sete Orelhas

Por volta de 1880, chegava a Santo Antônio da Platina uma família vinda de Fartura, Estado de São Paulo, para a conquista das terras adquiridas do Governo Imperial. Estabeleceram-se na atual Fazenda Santa Joana. Derrubaram a mata, plantaram e construíram suas casas.

No começo, os índios não incomodavam, mas depois começou a surgirem conflitos. 

João Francisco, um ex-escravo que morava com a família, era um homem bravo, temido por todos. Quando havia caçada aos índios, a prova da morte era trazer a orelha direita do índio morto. “As orelhas eram cortadas e colocadas num canudo de taquara.”

Conta-se que a matriarca da família certa vez estava fiando, em seu sítio, quando chegou João Francisco e despejou em seu colo os troféus nefastos. Estava grávida e com o susto que levou, abortou.

O “sete orelhas” era pessoa temida pelas crianças e adultos mais inocentes, na época antiga.

Fonte: Pioneiros e Desbravadores de Santo Antônio da Platina. Ficha preenchida por Ivone Mendes de Souza Tanko, livro Contos e Lendas Populares do Paraná.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

A CRUZ QUE BROTOU - São Jerônimo da Serra/PR


    Em meados do século XX, na zona rural do município de São Jerônimo da Serra, no local então denominado Sítio Bela Vista, hoje chamado de Sítio São Jorge; Vicente Olegário de Proença, respeitado proprietário da região, costumava celebrar novenas em devoção a São Gonçalo, no dia de comemoração do santo.
    Num gesto de profunda fé e devoção, sêo Vicente decidiu fincar uma cruz esculpida em madeira de cedro para que a comunidade local pudesse se reunir e realizar suas orações ao festejado santo.
    Com o passar do tempo, algo inesperado aconteceu: a cruz de cedro brotou e expandiu seus galhos de maneira aparentemente inexplicável. Esse fenômeno ou milagre inspirou ainda mais a devoção entre os habitantes locais.
    A cruz que brotou começou a atrair visitantes com maior frequência, de maneira que começaram a surgir relatos de pessoas que diziam ter recebido graças e milagres após terem cumprido promessas ou rezado aos pés da cruz, pedindo a intercessão de São Gonçalo a Deus.
    Com o curso dos anos, contudo, uma tempestade violenta derrubou a árvore sagrada. Porém, ao invés de deixar que aquele símbolo de fé se perdesse no tempo, a comunidade jeronimense decidiu honrar a memória da Cruz de Cedro, construindo uma gruta no local. Esse santuário se tornou um ponto de encontro para fiéis em busca de esperança, milagres e conforto espiritual, produzindo relatos de graças alcançadas até os dias atuais.
    Esse relato, adaptado por André Tressoldi, foi narrado por Jerônima Proença, antiga moradora e proprietária do local, e documentado por Marcelo Mello Costa, publicado no livro Lendas e Contos Populares do Estado do Paraná, na página 51, com o título "A cruz de Cedro".


 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Aparição do Bode de Olhos de Fogo em São José da Boa Vista

Em diversas tradições ao redor do mundo, os bodes são símbolos ambíguos, ligados a figuras mitológicas ou entidades místicas, representando desde a natureza selvagem até a fertilidade. Suas histórias folclóricas muitas vezes apresentam elementos como metamorfose, olhos luminosos e habilidades sobrenaturais. No inverno de 2012 mês de julho, uma "visagem" foi presenciada por diversos cidadãos boa-vistenses.

 Confira o relato:

Na cidade de São José da Boa Vista, envolta pelas sombras das frias madrugadas de inverno, uma criatura singular e enigmática deixou sua marca na memória dos habitantes. Entre diversos moradores sussurrava-se sobre um ser peculiar, um ser híbrido com corpo de bode e patas de cachorro.

Seus chifres imponentes cortavam o ar, emoldurando olhos misteriosos que pareciam arder em brasas, conferindo-lhe um semblante sobrenatural. Testemunhas, das mais devotas aos mais céticos, foram cativadas por essa presença inexplicável, desafiando suas convicções e despertando um fascínio entrelaçado com receio.

Como uma pintura vívida, esse ser transcendia as fronteiras entre a realidade e a fantasia, mesclando-se à névoa do folclore local. Seus passos ecoaram pelas ruas, deixando um rastro de mistério e incerteza, alimentando as conversas e provocando um encantamento tingido pela sombra do desconhecido.

A aparição desse ser enigmático, adornada por detalhes singulares e descrita por testemunhas tão diversas, fez brotar uma espécie de fascínio sobre os relatos, criando assim um capítulo pitoresco na história dessa comunidade.

Fonte: Adaptado de Lenda Urbana de SJBV por José Ricardo da Silva, no site do Município de São José da Boa Vista/PR.



domingo, 10 de dezembro de 2023

A Lenda da Panela de Ouro - Joaquim Távora e Santo Antônio da Platina/PR

 Antigamente era comum a lenda da panela de ouro em vários lugares. O povo dizia que quem a encontrava ficava rico e sumia da comunidade, porém, uma maldição acompanhava a pessoa e ela teria os dias da vida contados.

São muitas as facetas desta lenda. Uma é que ou vem alguma visagem ou pessoa falecida ou assombração lhe contar em um sonho ou pessoalmente onde se localiza o tesouro.

Aí a pessoa precisa ir à meia noite sozinha naquele local, ou então com três pessoas. É proibido ir em duas pessoas visto que o bicho-feio as atenta para uma matar a outra por causa do ouro. 

Além disso, durante o desenterro da panela começam a aparecer sons de porcos, abelhas, marimbondos, e diversas assombrações para testar a pessoa que vai se apoderar do tesouro, a maioria corre e deixa o tesouro para trás mas, os corajosos o desenterram e ficam ricos.

Na maioria dos casos trata-se de uma alma avarenta que morreu e ficou presa ao tesouro que escondeu em vida e só se liberta após passar o antigo tesouro a outra pessoa. 

Segundo o Sr. Moacir Ramos de Joaquim Távora, quando se encontra o tesouro, não se pode pegar tudo, tem que deixar três moedas no lugar, isso para que a maldição do tesouro não te acompanhe e você não morra antes do tempo.

O referido Sr. quando jovem vivia procurando por estes tesouros e torcendo para que alguma assombração lhe aparecesse e contasse onde estava o ouro. Inclusive ficou sabendo que na estrada de baixo do Bairro do Joá, em Joaquim Távora, algumas pessoas viam a noite uma aparição. 

Moacir não teve dúvidas, pegou o enxadão e foi perambular pelo local à meia noite. Enquanto caminhava pela estrada ouviu passos atrás de si, quando virou as costas tinha um ser espiritual de meia estatura, coberto de um véu. 

O ser questionou Moacir, o que você está fazendo aqui sem ter sido chamado? Seu Moacir respondeu: eu vim para desenterrar o ouro. Onde está o ouro? A assombração lhe disse: não há nada pra você aqui. E desapareceu parecendo entrar em um barranco.

Abaixo colaciono interessante lenda platinense descrita no blog Oceano de Letras.  Leia na íntegra:

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA


A panela de ouro

Nesse tempo João ficava com a viola tocando e cantando. A mulher sempre falava:
– Vem trabalhar!
Ele respondia:
– Ah! Não me importo!

Ela ia sempre na mina buscar água e passava por uma touceira de bananeiras, onde havia uma panela cheia de marimbondos que quando a viam se alvoroçavam.

– João! o homem vai tirar a gente daqui. Vamos ficar sem casa e sem trabalho!

E ele respondia:

– Ah, que importa!

A cada resposta desta, a mulher pensava:

– Ah, você me paga!

Um dia a mulher perdeu a paciência, foi ao bananal, pegou um pano e fez uma rodilha sobre a cabeça, pôs a panela de marimbondos e correu para casa, jogando a panela sobre seu marido. Ela saiu correndo e o marido que vinha atrás, gritava:

– Volta, Maria, venha ver!

Quando a alcançou, trouxe-a pra casa, mostrando que os marimbondos haviam se transformado em ouro.

– Não falei que não carecia de se importar. A fortuna caiu aqui, bem em cima de mim!

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).