sexta-feira, 25 de outubro de 2024

RELATO DE UM FERROVIÁRIO SOBRE OS COMBATES ARMADOS OCORRIDOS EM AFONSO CAMARGO E QUATIGUÁ NOS DIAS 11,12 E 13 DE OUTUBRO DE 1930.


EPISÓDIOS DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO IRONIA DO DESTINO – LEVANTE DO NORTE DO PARANÁ – PRIMEIROS CONTINGENTES QUE PENETRARAM PELO RAMAL PARANAPANEMA – COMBATE EM AFONSO CAMARGO NO DIA 11 – HORAS DE ANGÚSTIA E DE PAVOR – COMBATES DOS DIAS 12 E 13 EM QUATIGUÁ – CONSIDERAÇÕES – EFEITOS DA METRALHA – CONCLUSÃO 

 Quando em julho de 1930 estávamos ainda no Rio Uruguai notamos o que ia pela fronteira Santa Catarina – Rio Grande, pois soubemos que a revolução estouraria em 5 de julho, depois tornamos a saber que romperia em 14 do mesmo mês, por ser a esse tempo feriado nacional; então protestando doença embarcamos sem passe e sem licença em nove desse mês para escapar de sermos apanhados pela revolução, longe da família querida. Chegados a Ponta Grossa nada dissemos ao nosso chefe e amigo, para não sermos taxados de boateiros. Tínhamos quase certeza do advento da revolução porque o governo do Paraná mandou até aquelas paragens um empregado da repartição central de polícia que ali se apresentou com a capa de empregado ferroviário. Embora desconfiássemos, nada falamos a esse moço porque tínhamos certeza que ele nos responderia com evasivas para justificar a sua estadia, ora em Marcelino Ramos e Rio Uruguai, ora em Porto União e Curitiba. A nossa fuga de Rio Uruguai nos custou 30 mil réis e multa, e só demos por isso quando recebemos o envelope tuberculoso do pagamento de julho. Se não fosse estarmos tão longe teríamos feito uma reclamação ao... Bispo! Irrompeu a revolução em 3 de outubro. Ficamos todos trazidos de pânico quando vimos aeroplanos voando sobre as nossas cabeças quais águias prestes a nos arrebatar pelos ares à fora nas suas garras de aço. Fugimos ao perigo que se nos deparava no sul e viemos cair na boca do lobo assistindo aos combates dos dias 12 e 13 em Quatiguá. Das contingências da sorte não há quem possa fugir! Ironia do destino! 

Uniforme do Exército Brasileiro em 1926. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/708542953868435313/


Três de outubro precisamente, levantou-se no nordeste paranaense um por zelo de visionários que sabedores das combinações que da senha: “Bento Gonçalves” tomaram conta da máquina e vagões da composição do trem misto Barra Bonita – Rio do Peixe, prendendo em Barra Bonita o influênte chefe político Sr. Júlio Pedro Ferreira e seu empregado Lulu Lobo, os quais passaram presos para Jaguariaíva onde esses nóveis revolucionários os entregaram as forças gaúchas que já se encontravam ali. Dizem as crônicas que foi o primeiro lugar em todo o Brasil que desfraldou a bandeira da rebelião, nesse dia memorável nos factos do Brasil, no o nordeste paranaense, na próspera localidade de Barra Bonita. Foram heróis desses fatos os doutores doutores Átila Muniz Freire; Djalma Ferreira Lopes; Osvaldo Amaral; Srs. Paulo da Rocha Chueire e Salvador Rodrigues que com elementos que nunca faltam nessas ocasiões organizaram um batalhão patriotico, se esse nome se possa dar a um ajuntamento sem ordem e disciplina que andou por todas as localidades vizinhas requisitando tudo, mas nunca querendo ter contato com o inimigo. Para salvar o decoro dalguns diremos que abandonaram o batalhão a sua sorte retirando-se do mesmo os seguintes cidadãos Dr. Átila Muniz Freire, Dr. Djalma Ferreira Lopes, Dr. Oswaldo Amaral e o Sr, Paulo Rocha, este último foi, em seguida, pelos cabos revolucionários, nomeado comandante da praça de Colônia Mineira. Ficou o batalhão sobre o comando do senhor Salvador Rodrigues, mas devido ter se cercado de maus elementos, os quais não queriam queria desgostar, viu seu esforço nulificar-se a ponto de se ver perseguido, finda a revolução, pelo seus próprios companheiros de ideais. De ordem superior fomos até a Barbosa auxiliar serviço, fazendo o trajeto de Cerradinho àquela estação, 18 km, por montes e vales em 4 horas, pois saímos às 8 horas da manhã e às 12 horas já tínhamos atingido o fim de nossa jornada. Isto sucedeu em 10 de outubro, em noite de 9 havia passado por aquela estação rumo ao noroeste paranaense uma força revolucionária ao mando do Major Marinho, primeiro contingente que se atreveu a ir de encontro às forças paulistas, que já haviam transposto o Paranapanema e Ourinhos e ameaçavam invadir, como invadiram as povoações e cidades vizinhas. Em à noite de 11 à meia-noite três e quartos passou por Barbosas o segundo contingente revolucionário, sobre o comando do capitão Feio, que de feio, só tem o nome, porque um lagatão bem parecido, só por metáfora ou paradoxo poderá se chamar feio! 

"ESSA É A FORÇA IA ACUDIR A MAJOR MARINHO QUE NESSA TARDE HAVIA, EM DEFENSIVA EM AFONSO CAMARGO, SE DEBATIDO COM FORTE CONTINGENTE PAULISTA"

recuando em seguida para Quatiguá devida a posição ali ser insustentável. Recuando a força do Major Marinho para Quatiguá, a força Paulista veio no dia 12 pelas 14 horas da tarde ao seu encalço travando-se então forte renhido combate que se prolongou pela noite afora até que, pedido reforço com urgência foi em seu socorro a força do coronel Alcides Etchigoyen, que chegou ainda há tempo de sustar o sítio de Quatiguá e o seu completo aniquilamento, porque as forças paulistas compostas de 2500 homens, era superior as forças do major Marinho. Outra vez de ordem superior, fomos designados para ir auxiliar serviço em Quatiguá; para ali embarcamos na tarde de domingo 12 de outubro, embora soubéssemos pelo telégrafo que Quatiguá estava fedendo enxofre! Nesta tarde às 17 horas passou por Barbosa dois comboios com forças revolucionárias sobre o comando do Coronel Alcides, este valoroso soldado da revolução pretendia pernoitar e dar descanso a sua gente essa noite em Colônia Mineira, mas ali chegando recebeu do campo da luta novo pedido de reforços de homens armas e munições porque as que tinham na arrecadação não daria para sustentar nem mais seis horas de fogo! 

Imagem de IA

Nessa dura contingencia o coronel Alcides depois de conferenciar em particular com o Sr. Paulo da Rocha Chueire já então comandante da praça, e se reunir em sessão secreta o seu Estado Maior, disse ao pessoal ferroviário – avante! A essa voce partimos de colônia mineira, rumo a Quaguá às 18 horas; o sol e esse pondo escondendo-se robro como que demonstrando que a essa hora estava correndo o sangue generoso de tantos infelizes que se batiam cumprindo seu dever, pois eram soldados do governo constituído e outros defendiam o seu ponto de vista, eram visionários, batiam-se pelos seus ideais! Os comboios arrancaram lentamente e lentamente prosseguiram pela linha afora, até que perdemos de vista o belo panorama da próspera e bela cidade, Colônia Mineira, essa joia de alto valor lapidada pelo trabalho e operosidade dessa boa gente mineira – paulista, factores indiscutíveis da crescente prosperidade do norte de nossa terra dadivosa, generosa e boa! Aquem de Quatiguá o coronel Alcides, num desprendimento pela vida, foi para cabine do maquinista de “parabellum” em punho, sendo acompanhado nesse gesto pelo seu assistente, o nosso distinto conterrâneo 1º Tenente Stoll Nogueira, que no dia seguinte devia devia, ser pela sua operosa atividade, a alma da vitória . Dissemos isso porque sem um bom e operoso assistente, torna-se nulo todos os esforços de um comando. Todas as ordens emanares do coronel Alcides Etchogoyen, era pelo tenente Stoll Nogueira executadas com presteza, fazendo o remuniciamento do pessoal em fogo, com celeridade e segurança, fazendo-se o revezamento de pessoal com todo o cuidado para que o combate fosse vitorioso como de fato foi. Na manhã de 13 onde tantos infelizes perderam a vida ou ficaram mutilados, numa luta inglória, porque

"INGLÓRIA SÃO TODAS AS GUERRAS E LUTAS, ENTRE OS FILHOS DA MESMA PÁTRIA!"

Próximo de Quatiguá, 5 km apenas, o coronel Alcides mandou aos comboios fazerem alto, apagarem os faróis das locomotivas, desembarcar 150 praças no primeiro comboio e 150 no segundo 

"E COM ESSES 300 HOMENS FOI ATÉ AS LINHAS DE FOGO EM QUATIGUÁ, AJUDAR O MAJOR MARINHO RECHAÇAR AS FORÇAS PAULISTAS QUE JÁ HAVIAM QUASE SITIADO O MODESTO LUGAREJO, guindado por um golpe do destino, numa praça de guerra. PARA NÓS E DEMAIS FERROVIÁRIOS QUE NÃO ESTÁVAMOS AFEITOS ÀS LUTAS À MÃO ARMADA, O PIPOCAR DA FUZILARIA, O GARGALHAR SINISTRO DA METRALHA, QUE SE OUVIA DISTINTAMENTE DO LOCAL ONDE NOS ACHAVAMOS NOS CAUSAVAM PAVOR. "


Por vezes nos arrependemos por que não recusamos ordem e não fiquemos em casa, aguardando no aconchego da família, o desfecho dessa luta fratricida, que felizmente já passou para o rol das coisas consumadas. 

"FORAM HORAS DE ANSIEDADE, HORAS DE DESESPERO, HORAS DE ANGÚSTIA, AS QUE PASSAMOS NUMA RETA DA FERROVIA, PERTO DE UMA ESTRADA DE RODAGEM E NO MEIO DE UMA CAMPINA ABERTA ONDE PODERÍAMOS SER CHACINADOS PELA FORÇA PAULISTA."

O pavor crescia de ponto, quando se pensava na possibilidade de sermos atacados pela retaguarda por uma estrada que de Quatiguá vai a Colônia Mineira. Quando lembramos desses momentos de ansiedade e de incerteza, ainda nos bate acelerado o coração: porque seríamos fatalmente trucidados, visto que a escuridão da noite, favorecia um sertida das forças Paulistas, que primeiro podiam nos esmagar e depois atacar a retaguarda da força do coronel Etchigoyen! Esse valoroso cabo de guerra da revolução antes de ir até a linha de fogo em Quatiguá, colocou vedetas nos pontos perigosos, e metralha revolucionária, varreria todos aqueles que tentassem agredir-nos. Mas isso nós civis não sabíamos e por isso a tremedura da maleita nos atacou fora de horas... 

"FINALMENTE, ÀS 23:00 A FORÇA REGRESSOU INCÓLUME DA REFREGA E NESSE INSTANTE OS COMBOIOS SE PUSERAM EM MARCHA VAGAROSA ATÉ ATINGIR QUATIGUÁ, PARANDO AMBOS NA LINHA PRINCIPAL DE FONTE A PLATAFORMA DA ESTAÇÃO; DE ONDE AINDA SE ESCUTAVA AO LONGE O DEFLAGRAR DOS FUZIS EM TIROS ESPAÇADOS ENTRE A FORÇA PAULISTA RETIRANTE E A REVOLUCIONÁRIA QUE OU A PERSEGUIA OU HAVIA TOMADO POSIÇÃO ENTRICHEIRANDO-SE NOS CAFEZAIS VIZINHOS E ISSO CONTINUOU PELA NOITE TODA, COMO QUE AVISANDO O INIMIGO QUE NÃO SE APROXIMASSE"

, porque os soldados da revolução estavam alertas e todos em seus postos, prontos a venderem bem caro a sua pele. Chegamos a meia noite e quinze em Quatiguá. Tendo o coronel Alcides dado o começo, sem perda de tempo, a organização do plano de defesa da posição, 

"DANDO ORDENS PARA QUE NAS CRUZETAS DO LIGAMENTO QUE SUSTENTAVAM A COBERTA DA ESTAÇÃO FOSSEM COLOCADAS DUAS METRALHADORAS PESADAS UMA NO FLANCO DIREITO E OUTRA NO FLANCO ESQUERDO."

Esse serviço foi feito às vistas do Coronel Alcides de do capitão Pery, (se não me falha a memória), que chamou o correntino cabo Tedesco que ainda perguntou se as metralhas eram contra avião. Ao que respondeu que não era para essa espécie de inimigos, mas para ser usados em sentido horizontal. 

"TRABALHOU-SE A NOITE TODA, NINGUÉM DORMIU, SALVO AQUELES QUE, RENDIDOS, RETIRARAM-SE DO COMBATE, OU ESTAVAM EXAUSTOS RECUPERANDO FORÇAS."

Quem escreve essas linhas, carregou tábuas, retiradas de um carro gaiola da firma Matarazzo, juntamente com o Dr. Osvaldo Amaral, para que com as ditas tábuas serem feitos suportes para as metralhadoras e para os sacos de areia que seriam o resguardo do pessoal metralhador. 

"AS FORÇAS PAULISTAS TAMBÉM NÃO ESTAVAM INATIVAS, ELAS TAMBÉM SE MOVIMENTAVAM, PORQUE SE OBSERVAVA-SE CAMINHÕES E CAMINHÕES CHEGAREM DE LUZ ACESA ATÉ ENCRUZILHADA QUE VEM DE AFONSO CAMARGO ATÉ A ESTRADA DE MUZILLO A QUATIGUÁ. "

Lembramos que o coronel Etchigoyen, intrigado com tanto chegar de autos e apagando que é pagamento de luz e disse: – que diabos estão fazendo aquela gente? Ele mesmo respondeu: "se eles não nos atacarem ainda esta madrugada, não perderão tempo em esperar, amanhã cedo tocaremos o Zé Pereira em cima deles que há de sair lascas! Esse dito jocoso do coronel Alcides fez sussurro entre os soldados e paisanos presentes, causando hilaridade. De fato, na manhã de 13, pelas 5 horas, tudo pronto, 

"TODOS A POSTOS, OFICIAIS E SOLDADOS, CADA UM PREPARADO PARA VENCER OU MORRER, COMO DIZIA OS LEMAS ESCRITOS DOS SEUS BONÉTS, AGUARDAVAM SOMENTE A VOZ DO COMANDO PARA ROMPEREM HOSTILIDADE."

O coronel Etchigoyen junto ao aparelho telegráfico da estação recebia instruções via telegráfica do Estado Maior, ainda em Ponta Grossa. O coronel Alcides, seus oficiais e soldados de confiança, não dormiram nada, tão atarefados estiveram em colocar metralhadoras e sacos de areia no telhado da estação. 

"ÀS 5:55 DA MANHÃ, AS FORÇAS PAULISTAS ROMPERAM O FOGO CONTRA OS REVOLUCIONÁRIOS, QUE ESTAVAM NA ESTAÇÃO DE QUATIGUÁ E ADJACÊNCIAS ONDE SE ACHAVAM AS LINHAS DE ATIRADORES MASCARADOS NOS CAFEZAIS VIZINHOS."

Numa pequena elevação de terreno à direita da linha férrea, achava-se camuflada numas toiceiras de bananeira, a artilharia sobre o comando o major Nelson Etchigoyen, que havia chegado a tempo de tomar posição de combate às quatro horas da manhã. 

"O CREPITAR DA FUZILARIA ERA CONTÍNUA; AS METRALHADORAS DE LADO A LADO, NÃO CESSARAM SUAS GARGALHADAS TREMENDAS, APAVORANTES. NÃO OUVIA-SE NADA, QUE NÃO FOSSE O SIBILAR DAS BALAS ZUMBIMDO COMO ABELHAS, POR CIMA DAS NOSSAS CABEÇAS! "

Só se ouvia o fragor do combate, como se estivesse pegando fogo grande extensão de taquaral; nem um um toque de corneta se escutava nas horas longas do combate; parecia que tudo estava correndo a revelia das forças em ação! Quando a força Paulista mandou efetuar uma carga de cavalaria contra as posições revolucionárias e foi então que 

"O MAJOR NELSON ETCHIGOYEN, FALOU PELAS BOCAS DOS CANHÕES... O PRIMEIRO TIRO CAIU NO MEIO DA CAVALARIA PAULISTA ESPALHANDO-A POR TODOS OS LADOS;"

não esperaram o segundo baterem retirada, o segundo caiu no meio dos caminhões de víveres e munições; foi um desastre para eles! O combate continua encarniçado, nele crepita a fuzilaria; as metralhas continuam as suas gargalhadas de monstros, quaes molocs da lenda, sempre sedentas de vítimas para os seus sinistros repastos; 

"ASSIM SÃO AS GUERRAS, ASSIM SÃO AS EVOLUÇÕES QUE TUDO DERRIDAM, TUDO ESFACELAM E QUASE NADA CONSTROEM EM BENEFÍCIO DA HUMANIDADE!"

O coronel Etchigoyen não descansava, de binóculo nos olhos, junto à sua metralhadora que era municiada e às vezes acionada pelo incansável correntino cabo Tedesco e outras vezes, sem parar, acionada pelo próprio comandante Etchigoyen. Ao lado direito outra metralhadora moniciada por simples soldados era adicionada pelo Valente Capitão Perry que, juntamente com sua companheira fatídica, faziam estragos nas fileiras das forças paulistas. Entraram em ação, nesse dia memorável para a revolução os seguintes oficiais: capitão Feio; Nelson Etchigoyen; Prado; Arísio; Isaac Monte, Peri; tenentes Lucena; Barbosa, Cid França; Mena Barreto e Apera, este último, alemão comandante da companhia de lança Minas, afóra outros oficiais cujos nomes não nos foi possível colhê-los, na balburdia de um fim de combate. 

"SE NÃO FORA O CORONEL ALCIDES ETCHIGOYEN TER PENETRADO A TEMPO RAMAL PARANÁPANEMA A DENTRO, NO DOMINGO, 12 DE OUTUBRO, AS FORÇAS PAULISTAS TERIAM FORÇOSAMENTE ESMAGADO QUATIGUÁ, ATINGIDO A COLÔNIA MINEIRA, BARBOSA, WENCESLAU BRAZ, "

então a luta seria terrível entre Jaguariaíva e os faxinais de São José do Paranapanema e os campos de Cachoeirinha; facilmente fariam ligações com as forças de Itararé por São José do Cristianismo ou mesmo por Santa Cruz dos Lopes. Nós por aqui teríamos que sofrer a pressão dos beligerantes, seríamos fatalmente reduzidos a condição a condição de sanduíches e seríamos comidos por um ou outro lado dos exércitos em luta! Terminou as 10:55 da manhã quando o coronel Alcides observou pelo binóculo que as forças paulistas tinham abandonado o campo de luta, falando esta frase picaresca: "olhem lá rapaziada, a macacada bateu em retirada"! Notamos que regressaram das linhas de fogo vários ferroviários entre eles o agente e telegrafista de Wenceslau Braz, Sr. Júlio Pereira e o Sr. Raul Vieira que não tendo serviço no telegrafo foram exercitar os dedos nos fuzis. Também vimos o chefe de trem Cândido Neves regressar são e salvo, só com a cara muito feia, das minhas de combate, parecendo que não tinha achado muito muito bom, esse prato amargo da revolução – o combate. O combate cessou por completo às 10:55 da manhã, quando o coronel Alcides chamou pelo Tenente Stoll Nogueira, a quem deu ordem para ser mandada gente apta a aprender grande quantidade de autos-caminhões, material bélico, víveres e munições. Foi boa presa de guerra feita nesse dia, 

"FOI GRANDE A QUANTIDADE DE SOLDADOS DA POLÍCIA PAULISTA E PÁTRIA AMADA FEITOS PRISIONEIROS,"

bem assim, oficiais dessas corporações bem como um segundo tenente da Carta Geral que também foi feito prisioneiro. A força Paulista perdeu muita gente devido as péssima posição em que se achavam e ser a maioria da sua gente bisonha. Dizem que até pegados a laço nas cidades paulistas e virem a ser sacrificada no açougue revolucionário! Também vimos um capitão da força Paulista, moço, uns 20 anos presumíveis, e bastante ferido neste mortífero combate de 13 de outubro. Vimos o coronel Etchigoyen mandar fornecer doces de confeitaria a todos os oficiais caídos prisioneiros e bóia a todas as praças nas mesmas condições, porque todas as praças se queixavam de estarem sem alimentação há muitos dias e fazendo grandes percursos e marcha forçada. 

"FORAM SEPULTADOS OS MORTOS DE AMBOS OS LADOS E RECOLHIDOS OS FERIDOS AO HOSPITAL DE SANGUE IMPROVISADO NUM CARRO DE PASSAGEIRO DA ESTRADA DE FERRO. "

Os estragos feitos pela metralha são terríveis, são horrendos: a metralha é uma arma terrível, onde ela atinge deixa o rastro tenebroso de sua bárbara passagem, 

"A METRALHA DEVIA SER PROIBIDA PELAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS; NÃO É UMA ARMA, É UM INSTRUMENTO DIABÓLICO DE DESTRUIÇÃO;" 

onde bate a sua dantesca rajada, vai tudo raso, fica tudo em frangalho, estraçalhado! 

"QUEM ARQUITETOU E INVENTOU SEMELHANTE MÁQUINA DE GUERRA POR CERTO NÃO ERA CRISTÃO E NESSE INSTANTE ESTAVA ASSISTIDO E INFLUENCIADO PELO DIABO!"

Vimos um soldado da polícia paulista mutilado por uma rajada de metralha; o desgraçado apanhou em cheio no rosto e na mão direita; o rosto ficou deformado, a mão direita ficou só com o polegar intacto e os outros dedos se foram na voragem da metralha! A mão era uma palmatoria, o cabo era o polegar intacto, os nervos da mão, todos de fora pareciam um fiapos de algodão pendentes da mão esfacelada!

"ESTAVA HORRÍVEL DE SE VER! QUE QUÉR: SE A LEPRA DA POLITICAGEM ASSIM DETERMINA; ASSIM QUE SEJA"

para engrandecimento e prosperidade, da terra onde nascemos! Esses coitados, nas horas bonançosas da paz, ainda cantam “nós somos da pátria amada...! Nada fizemos que merecesse menção; só cumprimos nosso dever de ferroviário, obedecendo as ordens do nosso chefes contribuindo com o nosso contingente de esforços para que os nossos superiores não fossem suspeitos aos olhos dos generais da revolução. Por esse pequeno sacrifício nada pedimos porque pensamos que se a revolução for pagar a todos que trabalharam desinteressadamente ou não pela vitória da causa, nem o Amazonas correndo ouro sem parar terá elementos para premiar aos que se dizem patriotas e salvadores da nossa pobre. mas querida nacionalidade. Terminados depomos por sobre a campa do humilde soldado sacrificado nos combates de Afonso Camargo, dia 11; e 12 e 13 em Quatiguá um ramo de cipreste e um ramalhete de goivos em respeito e admiração que nos merecem sua memória, pois tombaram defendendo cada um o seu ponto de vista cumprindo o seu dever! 
 Cerradinho, 13 de outubro de 1931. 
 Adaucto Ferreira




Adendo: Este relato foi publicado no Jornal "O Dia" e pode ser consultado na Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional. 

Abaixo disponibilizo as imagens dos recortes dos jornais a que me refiro.







2 comentários:

  1. boa noite, gostaria de entrar em contato com o autor, minha familia morou nessa região nos anos 30 e 40

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  2. Oi Donizete! Então vocês tem conhecimento desses combates. Eu quero aprofundar esse relato.

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