Sebastião de Lima. Acervo o Rádio do Paraná. |
Sebastião de Lima (Miraí/MG, 1918 — Curitiba/PR, 1996) foi maestro, militar e compositor — alguém que transitou entre a música popular e a música cívica com naturalidade. Ainda jovem atuou no Rio de Janeiro no meio do rádio e da cantoria popular; entre suas composições de relativo destaque está a parceria “Brasil, Brasil Brasileiro” (em coautoria com Henrique Almeida) — uma canção que o ajudou a ganhar projeção nacional antes de se fixar no Paraná.
Com a transferência para Curitiba pela Aeronáutica, Sebastião encontrou no interior do Paraná um campo aberto: prefeitos e comunidades buscavam hinos que representassem suas histórias e símbolos. Ele transformou isso em seu ofício — compôs letra e melodia para mais de uma, centena de hinos municipais ao longo da vida, isso apenas no Paraná. Em outras palavras, além de artista, tornou-se um vendedor de hinos profissional que oferecia às cidades interioranas a possibilidade de um símbolo musical oficial composto por alguém com o currículo de ter composto um sucesso nacional. Aliás Sebastião já compões hinos para times de futebol, como Coritiba, Pinheiros e Paraná
Do ofício à “venda de hinos”
A expressão pode soar dura, mas descreve um fato prático: Sebastião trabalhava em escala. Viajava, recebia encomendas, adaptava textos e melodias e entregava hinos prontos para serem institucionalizados. Para muitos municípios isso foi conveniente — um compositor experiente entregando uma peça formal e cantável. Para Sebastião, foi também uma forma estável de sustento e presença cultural no estado.
O alcance no Paraná e no Norte Pioneiro
No Paraná, a produção de Sebastião de Lima é vasta. Registros e arquivos apontam que mais de uma centena de hinos lhe são atribuídos, embora o número exato varie conforme a fonte. Essa trajetória mostra como sua influência se espalhou por todo o estado, marcando a identidade cívica de inúmeros municípios.
No Norte Pioneiro, composto por 46 municípios, Sebastião de Lima é reconhecido como autor ou coautor de hinos em 14 cidades, representando aproximadamente 30% da região.
Entre os municípios identificados estão: [JOAQUIM TÁVORA], [SANTANA DO ITARARÉ], [JABOTI], [SÃO JOSÉ DA BOA VISTA], [BARRA DO JACARÉ], [CONSELHEIRO MAIRINCK], [CURIÚVA], [CONGONHINHAS], [ITAMBARACÁ], [WENCESLAU BRAZ], [LEÓPOLIS], [SANTO ANTÔNIO DO PARAÍSO], [SÃO SEBASTIÃO DA AMOREIRA], [SÃO JERÔNIMO DA SERRA].
A adoção desses hinos ocorreu principalmente entre as décadas de 1960 e 1980, período em que Sebastião de Lima estava mais ativo na composição de hinos municipais. Apesar do legado expressivo, informações detalhadas sobre a autoria e história de cada hino ainda são escassas, mesmo nos sites oficiais dos municípios. Muitas vezes, é necessário recorrer a gravações, programas culturais e arquivos independentes para resgatar essa memória musical.
A crítica do “autoplagio”
Com tanta produção, veio a crítica. Observadores e jornalistas notaram que muitos hinos assinados por Sebastião repetem versos, imagens e fórmulas: expressões como “terra querida”, “filho teu”, referências ao progresso, à natureza e ao pioneirismo aparecem com frequência e, por vezes, de forma muito semelhante em composições diferentes.
Isso gerou a acusação — mais cultural do que judicial — de autoplagio: não no sentido estrito de crime, mas como questão estética e ética criativa. A pergunta que fica é simples e cidadã: um hino municipal deve ser uma peça única, enraizada na singularidade daquela cidade, ou aceitaremos versões padronizadas que servem ao propósito simbólico de forma rápida e econômica?
Um legado dúbio e valioso
Sebastião de Lima deixou um rastro musical que é ao mesmo tempo generoso e controverso. De um lado, muitas cidades ganharam um hino para cantar em festas, escolas e cerimônias — um ganho concreto para a vida cívica. Do outro, a repetição de fórmulas chama governos locais e comunidades a pensar mais sobre participação, identidade e autenticidade cultural.
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