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Foto da casa mal assombrada por André Tressoldi (2025) |
Entre os anos 70 e 80, um casal ergueu sua casa no bairro Três Galhos, em Joaquim Távora. Era um sítio simples, mas próspero, construído com trabalho árduo e esperança. A casa, sólida e bem feita, representava não apenas um lar, mas um sonho fincado na terra. No entanto, tempos difíceis chegaram. A crise na lavoura e as dívidas com o banco apertaram o cerco, enquanto os fazendeiros mais ricos compravam as terras dos pequenos produtores a preços irrisórios. Alguns vendiam por necessidade, outros por desespero, e havia ainda aqueles que eram empurrados para fora por meios que poucos ousavam comentar.
O casal lutou enquanto pôde, mas acabou cedendo à pressão. Venderam a propriedade, mas a mulher nunca se conformou. Deixar sua casa, entregar seu sonho nas mãos de outro, era um golpe que ela não aceitava. No dia em que partiu, diante do novo dono, lançou um presságio: ninguém jamais moraria ali por muito tempo.
O fazendeiro que comprou o sítio não deu ouvidos. Instalou logo um caseiro na casa, depois outro, e mais outro. Mas nenhum conseguia ficar mais de quinze dias na moradia. Barulhos inexplicáveis, objetos que se moviam, estalos e sombras sorrateiras perturbavam os moradores, e, durante o sono, sonhos inquietos tomavam conta dos residentes. Alguns falavam de uma sensação estranha, um peso invisível nos ombros, como se fossem intrusos. A casa, a primeira vista acolhedora, tornara-se um lugar de passagem, rejeitando qualquer tentativa de permanência.
Sem escolha, o fazendeiro mandou construir novas moradias para seus empregados e deixou a casa vazia. Com o tempo, sua fama se espalhou. Moradores e visitantes relatavam ruídos estranhos à noite, como sussurros no vento ou passos no assoalho. Alguns juravam ter visto tatus entrando sob a casa, mas ao verificarem, nada encontravam. Outros apenas sentiam o silêncio espesso, pesado como um véu.
Um dia, um homem roçava a vegetação nos arredores da casa quando ouviu, bem atrás de si, a buzina de um jipe. Assustado, virou-se de imediato, mas não havia nada ali, apenas o campo vazio e a casa ao fundo. O som repetiu-se uma segunda vez, alto e insistente. Sem hesitar, ele largou as ferramentas e partiu dali, jurando nunca mais passar a noite naquele lugar.
Ainda hoje relata-se que a maldição lançada, num momento de injustiça, pela antiga dona ainda paira sobre aquela casa, um aviso persistente, um sussurro do passado que ecoa nas noites vazias daquela casa e revela o poder de quem clama por justiça do fundo de sua alma
*Relato de Wilson Rosa de Lima escrito e adaptado por André Tressoldi.
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