quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

As diferenças entre os "Monges" João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Agostinho

As três figuras são usualmente confundidas e fundidas na pessoa do monge João Maria. Estes homens transitaram  na região sul do Brasil entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Numa época de grande dificuldade social, e ausência de recursos, principalmente nas regiões interioranas. As pessoas procuravam a cura nos milagres, único recurso disponível a essa gente necessitada de tudo. Com a pratica comum entre eles, de  aconselhamento cristão, rezas, cura por ervas e fontes de água benta, aliados à figura eremítica que os caracterizavam, chamavam atenção onde passavam, ganhando muitos adptos ou devotos. Cada um deles contém histórias incríveis. Abaixo descreveremos resumidamente a diferença de cada um deles.

Foto tirada em Havana, Cuba em 1861



João Maria de Agostini. De origem italiana, chegou às Américas em 1838, vivendo em várias regiões do Brasil, incluindo o Rio de Janeiro, Santos, Sorocaba e Rio Grande do Sul, onde introduziu o culto a Santo Antão. Sua prisão foi decretada em 1848, forçando-o a se refugiar. Retornou à província em 1851, enfrentando conflitos devido a seu discurso contra a escravidão. Buscou passaporte para o Paraguai em 1852, sendo avisado para deixar a província em 30 dias ou enfrentaria prisão e deportação. Seu paradeiro, foi revelado por informações de dois livros. Após deixar o Brasil, passou por Paraguai, Argentina, Chile, Bolívia, Lago Titicaca, Peru e América Central, sendo preso no México em 1859. Deportado para Cuba, foi recebido com entusiasmo e tirou uma famosa foto em Havana. Viajou para Nova York, Canadá e, finalmente, para o Oeste dos EUA. Viveu como eremita no Novo México até 1867, quando se dirigiu para Mesilla, onde foi assassinado em abril de 1869 por possíveis índios Apaches em guerra contra a ocupação branca. Seu corpo está enterrado no cemitério católico de Mesilla, a 80 quilômetros da fronteira com o México. 


O segundo monge, João Maria de Jesus, apareceu no Paraná e Santa Catarina entre 1886 e 1908. Ele utilizava os mesmos métodos do primeiro monge, João Maria de Agostini, praticando curas com ervas, aconselhamento e uso de água de fontes. Acredita-se que seu verdadeiro nome seja Atanás Marcaf de origem Siria e de ascendentes gregos. Em 1897, ele afirmou: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho, percebendo claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, sem pousar na casa de outros. Vi isso claramente". Existem divergências sobre seu desaparecimento, com algumas fontes indicando cerca de 1900, enquanto outras mencionam 1907 ou 1908. A semelhança entre os dois monges era tão marcante que as pessoas os consideravam como uma única figura, afirmando que o "profeta" contava com 180 anos. Este monge tem passagem comprovada na cidade de Carlópolis, tendo uma capelinha em sua homenagem. Há relatos que também passou por Guapirama. Fica aqui a sugestão para que se faça uma pesquisa onde mais tenha passado no Norte Pioneiro do Paraná.


José Maria e suas virgens videntes.
José Maria de Jesus apareceu em 1911 em Campos Novos (SC) e, segundo alguns historiadores, era um ex-militar. De acordo com um laudo policial de Vila de Palmas, no Paraná, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena de Boaventura, um soldado desertor condenado por estupro. Ele afirmava ser irmão do primeiro monge e adotou o nome de José Maria de Santo Agostinho. Apesar de usar métodos semelhantes de cura, diferenciou-se ao organizar agrupamentos, fundando os "Quadros Santos" e os "Pares de França".  Diferentemente de outros dois monges, José Maria tinha seguidores em procissão e aceitava doações por seus conselhos e receitas. A região era cenário de disputas territoriais e, acusado de buscar a volta da monarquia, o Governo Estadual de Santa Catarina pediu intervenção, interpretada como afronta pelo Governo do Paraná. Uma força militar liderada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá invadiu o "Quadro Santo" de Irani (SC), resultando na morte em combate do monge José Maria e do coronel, marcando o fim do ciclo dos monges e o início da Guerra do Contestado.


Enfim, podemos chamar o primeiro de monge propriamente dito, o segundo de místico ou curandeiro e o terceiro de revolucionário.

Adendo:

Quadros Santos representava uma praça de formato retangular onde uma igreja estava situada, e em cada um dos quatro cantos, grandes cruzeiros marcavam pontos significativos ao redor dela. A formação dos redutos resultava na criação de uma irmandade.

Quanto aos Pares de França, constituíam uma unidade de elite, composta por vinte e quatro cavaleiros altamente equipados, montando cavalos brancos ricamente adornados. Durante os confrontos, carregavam consigo um estandarte branco ou de outra cor, destacando uma cruz no centro.



sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O homem das sete orelhas. Um retrato do massacre dos indígenas. SAP/PR



A história ou relato que descreverei narra o quadro das caçadas que eram promovidas pelos ditos "desbravadores" e colonizadores destas terras do Norte Pioneiro do Paraná contra os índios caingangues, também chamados de bugres pelos habitantes locais. Uma realidade sangrenta e cruel, até impiedosa, e que muitas vezes é omitida do conhecimento popular. Vejamos:

 O Homem das Sete Orelhas

Por volta de 1880, chegava a Santo Antônio da Platina uma família vinda de Fartura, Estado de São Paulo, para a conquista das terras adquiridas do Governo Imperial. Estabeleceram-se na atual Fazenda Santa Joana. Derrubaram a mata, plantaram e construíram suas casas.

No começo, os índios não incomodavam, mas depois começou a surgirem conflitos. 

João Francisco, um ex-escravo que morava com a família, era um homem bravo, temido por todos. Quando havia caçada aos índios, a prova da morte era trazer a orelha direita do índio morto. “As orelhas eram cortadas e colocadas num canudo de taquara.”

Conta-se que a matriarca da família certa vez estava fiando, em seu sítio, quando chegou João Francisco e despejou em seu colo os troféus nefastos. Estava grávida e com o susto que levou, abortou.

O “sete orelhas” era pessoa temida pelas crianças e adultos mais inocentes, na época antiga.

Fonte: Pioneiros e Desbravadores de Santo Antônio da Platina. Ficha preenchida por Ivone Mendes de Souza Tanko, livro Contos e Lendas Populares do Paraná.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

A CRUZ QUE BROTOU - São Jerônimo da Serra/PR


    Em meados do século XX, na zona rural do município de São Jerônimo da Serra, no local então denominado Sítio Bela Vista, hoje chamado de Sítio São Jorge; Vicente Olegário de Proença, respeitado proprietário da região, costumava celebrar novenas em devoção a São Gonçalo, no dia de comemoração do santo.
    Num gesto de profunda fé e devoção, sêo Vicente decidiu fincar uma cruz esculpida em madeira de cedro para que a comunidade local pudesse se reunir e realizar suas orações ao festejado santo.
    Com o passar do tempo, algo inesperado aconteceu: a cruz de cedro brotou e expandiu seus galhos de maneira aparentemente inexplicável. Esse fenômeno ou milagre inspirou ainda mais a devoção entre os habitantes locais.
    A cruz que brotou começou a atrair visitantes com maior frequência, de maneira que começaram a surgir relatos de pessoas que diziam ter recebido graças e milagres após terem cumprido promessas ou rezado aos pés da cruz, pedindo a intercessão de São Gonçalo a Deus.
    Com o curso dos anos, contudo, uma tempestade violenta derrubou a árvore sagrada. Porém, ao invés de deixar que aquele símbolo de fé se perdesse no tempo, a comunidade jeronimense decidiu honrar a memória da Cruz de Cedro, construindo uma gruta no local. Esse santuário se tornou um ponto de encontro para fiéis em busca de esperança, milagres e conforto espiritual, produzindo relatos de graças alcançadas até os dias atuais.
    Esse relato, adaptado por André Tressoldi, foi narrado por Jerônima Proença, antiga moradora e proprietária do local, e documentado por Marcelo Mello Costa, publicado no livro Lendas e Contos Populares do Estado do Paraná, na página 51, com o título "A cruz de Cedro".


 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Aparição do Bode de Olhos de Fogo em São José da Boa Vista

Em diversas tradições ao redor do mundo, os bodes são símbolos ambíguos, ligados a figuras mitológicas ou entidades místicas, representando desde a natureza selvagem até a fertilidade. Suas histórias folclóricas muitas vezes apresentam elementos como metamorfose, olhos luminosos e habilidades sobrenaturais. No inverno de 2012 mês de julho, uma "visagem" foi presenciada por diversos cidadãos boa-vistenses.

 Confira o relato:

Na cidade de São José da Boa Vista, envolta pelas sombras das frias madrugadas de inverno, uma criatura singular e enigmática deixou sua marca na memória dos habitantes. Entre diversos moradores sussurrava-se sobre um ser peculiar, um ser híbrido com corpo de bode e patas de cachorro.

Seus chifres imponentes cortavam o ar, emoldurando olhos misteriosos que pareciam arder em brasas, conferindo-lhe um semblante sobrenatural. Testemunhas, das mais devotas aos mais céticos, foram cativadas por essa presença inexplicável, desafiando suas convicções e despertando um fascínio entrelaçado com receio.

Como uma pintura vívida, esse ser transcendia as fronteiras entre a realidade e a fantasia, mesclando-se à névoa do folclore local. Seus passos ecoaram pelas ruas, deixando um rastro de mistério e incerteza, alimentando as conversas e provocando um encantamento tingido pela sombra do desconhecido.

A aparição desse ser enigmático, adornada por detalhes singulares e descrita por testemunhas tão diversas, fez brotar uma espécie de fascínio sobre os relatos, criando assim um capítulo pitoresco na história dessa comunidade.

Fonte: Adaptado de Lenda Urbana de SJBV por José Ricardo da Silva, no site do Município de São José da Boa Vista/PR.



domingo, 10 de dezembro de 2023

A Lenda da Panela de Ouro - Joaquim Távora e Santo Antônio da Platina/PR

 Antigamente era comum a lenda da panela de ouro em vários lugares. O povo dizia que quem a encontrava ficava rico e sumia da comunidade, porém, uma maldição acompanhava a pessoa e ela teria os dias da vida contados.

São muitas as facetas desta lenda. Uma é que ou vem alguma visagem ou pessoa falecida ou assombração lhe contar em um sonho ou pessoalmente onde se localiza o tesouro.

Aí a pessoa precisa ir à meia noite sozinha naquele local, ou então com três pessoas. É proibido ir em duas pessoas visto que o bicho-feio as atenta para uma matar a outra por causa do ouro. 

Além disso, durante o desenterro da panela começam a aparecer sons de porcos, abelhas, marimbondos, e diversas assombrações para testar a pessoa que vai se apoderar do tesouro, a maioria corre e deixa o tesouro para trás mas, os corajosos o desenterram e ficam ricos.

Na maioria dos casos trata-se de uma alma avarenta que morreu e ficou presa ao tesouro que escondeu em vida e só se liberta após passar o antigo tesouro a outra pessoa. 

Segundo o Sr. Moacir Ramos de Joaquim Távora, quando se encontra o tesouro, não se pode pegar tudo, tem que deixar três moedas no lugar, isso para que a maldição do tesouro não te acompanhe e você não morra antes do tempo.

O referido Sr. quando jovem vivia procurando por estes tesouros e torcendo para que alguma assombração lhe aparecesse e contasse onde estava o ouro. Inclusive ficou sabendo que na estrada de baixo do Bairro do Joá, em Joaquim Távora, algumas pessoas viam a noite uma aparição. 

Moacir não teve dúvidas, pegou o enxadão e foi perambular pelo local à meia noite. Enquanto caminhava pela estrada ouviu passos atrás de si, quando virou as costas tinha um ser espiritual de meia estatura, coberto de um véu. 

O ser questionou Moacir, o que você está fazendo aqui sem ter sido chamado? Seu Moacir respondeu: eu vim para desenterrar o ouro. Onde está o ouro? A assombração lhe disse: não há nada pra você aqui. E desapareceu parecendo entrar em um barranco.

Abaixo colaciono interessante lenda platinense descrita no blog Oceano de Letras.  Leia na íntegra:

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA


A panela de ouro

Nesse tempo João ficava com a viola tocando e cantando. A mulher sempre falava:
– Vem trabalhar!
Ele respondia:
– Ah! Não me importo!

Ela ia sempre na mina buscar água e passava por uma touceira de bananeiras, onde havia uma panela cheia de marimbondos que quando a viam se alvoroçavam.

– João! o homem vai tirar a gente daqui. Vamos ficar sem casa e sem trabalho!

E ele respondia:

– Ah, que importa!

A cada resposta desta, a mulher pensava:

– Ah, você me paga!

Um dia a mulher perdeu a paciência, foi ao bananal, pegou um pano e fez uma rodilha sobre a cabeça, pôs a panela de marimbondos e correu para casa, jogando a panela sobre seu marido. Ela saiu correndo e o marido que vinha atrás, gritava:

– Volta, Maria, venha ver!

Quando a alcançou, trouxe-a pra casa, mostrando que os marimbondos haviam se transformado em ouro.

– Não falei que não carecia de se importar. A fortuna caiu aqui, bem em cima de mim!

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Hidrelétrica de Chavantes


Foto: CTG - Brasil

A Usina Hidrelétrica de Chavantes está localizada no rio Paranapanema, na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná, no Brasil, mais especificamente no km 10 da Rodovia Chavantes-Ribeirão Claro. Com aproximadamente 414 MW de potência é um dos mais importantes aproveitamentos do Rio Paranapanema.

Iniciada em 1959, teve o primeiro grupo gerador em operação em 30.11.1970 e foi inaugurada em 25.01.1971. Fonte: Museu Histórico de Chavantes Adibe Abdo do Rio.

Segundo CTG Brasil a UHE Chavantes é uma usina fundamental no fornecimento de energia elétrica para o Sistema Interligado Nacional e para o equilíbrio da bacia do Rio Paranapanema. A barragem permite o armazenamento de 8,8 bilhões de m³ de água, e ajuda regularizar parte da vazão média do rio, de forma a contribuir para o controle de cheias. A usina está em concessão para a CTG-Brasil até a 30/03/2032. Gera, em média, energia para abastecer a uma cidade com cerca de 247 mil habitantes.

Quando foi inaugurada, a UHE Chavantes era o maior empreendimento hidrelétrico da região e um dos maiores do Estado de São Paulo. A usina foi decisiva para o desenvolvimento econômico do Vale do Paranapanema gerando emprego e renda.

Você encontra mais dados e fotos históricas interessantes no blog Chavantes/SP por Lília Alonso, no seguinte link Fotos históricas e história de UHE de Chavantes


 





segunda-feira, 13 de junho de 2022

Reforma Eleitoral -TCC



Segue abaixo link de meu Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Direito Eleitoral para quem se interessar pelo assunto e quiser pesquisar.


Reforma Eleitoral - Efetividade X Inefetividade

RESUMO

O trabalho trata da dicotomia referente à reforma eleitoral no que diz respeito a sua efetividade e inefetividade. Historicamente se narra os acontecimentos e as principais reformas eleitorais ocorridas ou não, atentando para o fato de que as maiorias das reformas continham interesses subjetivos e privados. No segundo capítulo discorrem-se as razões para se efetivar a reforma. No terceiro capítulo são apresentadas as propostas atuais de reforma, assim como os principais entraves para a real mudança. No quarto capítulo são sugeridas algumas reformas que poderiam se fazer se houvesse vontade e ação necessária à mudança. O trabalho chega à conclusão de que a efetividade das reformas políticas apresentadas historicamente até hoje é muito pequena ou quase nula devido a interesses escusos ao bem comum. É notado inclusive que nunca houve real vontade e ações para se modificar estruturalmente o problema. Por fim lança sugestões para a efetividade e aponta como problemas o interesse pessoal dos detentores do poder e o alheamento e falta de qualidade no pensamento crítico dos eleitores, entre outros fatores.

Palavras chave: Reforma política efetiva; reforma política inefetiva; problemas e sugestões.

 

ABSTRACT

The paper deals with the dichotomy of electoral reform with respect to its effectiveness and ineffectiveness. Historically, the events and the main electoral reforms have been described or not, taking into account the fact that the majority of the reforms contained subjective and private interests. In the second chapter the reasons for reform are discussed. The third chapter presents the current reform proposals as well as the main obstacles to real change. The fourth chapter suggests some reforms that could be made if there was the will and action necessary for change. The paper concludes that the effectiveness of the political reforms historically presented to date is very small or almost nil because of vested interests for the common good. It is even noticed that there was never any real will and action to change the problem structurally. Finally, it makes suggestions for effectiveness and points out as problems the personal interest of the holders o power and the lack of quality in the critical thinking of the voters, among other factors.

Keywords: Effective political reform; ineffective political reform; problems and suggestions.