sexta-feira, 20 de setembro de 2024

DESTINO AO ALÉM (Lendas e contos populares)

 




    Na década de 1980, numa noite aparentemente normal na PR-92, nas terras entrecortadas pelas montanhas baixas do Norte Pioneiro do Paraná um grupo de universitários retornava de Jacarezinho para Wenceslau Braz.

    O velho ônibus que os trazia apresentou uma pane mecânica, quer por coincidência do acaso, quer por seu estado precário. O motorista teve que parar no acostamento. Era quase meia-noite e a estrada estava deserta, envolta em um silêncio, ora entrecortado pelo farfalhar do vento e corujas estridentes. O desespero começava a se infiltrar entre os passageiros mais receosos, até que, ao longe, se aproximava os faróis do que parecia ser um ônibus, rasgando a escuridão.

    Era um coletivo da Viação Garcia, puderam ver, que se aproximava vagarosamente. O veículo reluzia sob a luz da lua. O motorista, um homem de feições gentis, parou e ofereceu ajuda aos universitários. Aliviados, os estudantes embarcaram no ônibus. Mas menos de dois quilômetros a frente, o alívio deu lugar à estranheza.

    Os estudantes observaram que os demais passageiros estavam estranhamente  vestidos de branco, mantinham-se em um silêncio sepulcral e encavam o vazio à frente de seus olhos. Não se ouviam risos, nem murmúrios, nem o tilintar de bolsas ou chaves. Apenas o ronco baixo do motor, que ecoava por entre os corpos estáticos. Havia também um cheiro doce no ar, algo um tanto indefinido, como flores murchas misturadas ao leve odor de incenso queimado.

    Durante a viagem, os universitários trocaram olhares, inquietos. Algo não parecia certo. O clima no ônibus era pesado, como se carregasse uma história mal contada, um segredo sombrio preso entre seus assentos. Cada quilômetro percorrido aumentava a sensação de que estavam deslocados, como se estivessem atravessando uma fronteira invisível.

    O que significaria, aquilo, um bando de pessoas que seriam transportadas ao hospício? Todos de branco, ninguém falava com ninguém, e ninguém nos fitava, nem sequer mudavam de posição e permaneciam como se estivessem olhando para o além.

    Quando desembarcaram do ônibus os universitários sentiram um grande alívio. Embora estivessem agradecidos pela carona, também estavam agradecidos por terem saído daquela atmosfera esquisita e assustadora.

    No dia seguinte, uma das jovens estudantes, grata pelo transporte, decidiu ligar para a Viação Garcia para agradecer pela carona salvadora. Ao descrever o ônibus e o motorista gentil, a atendente, do outro lado da linha, ficou em silêncio.

    Um instante depois, com a voz embargada, a atendente revelou que a empresa Garcia não tinha linha usual entre Jacarezinho e Wenceslau Braz e que o ônibus descrito havia se acidentado na mesma noite, nas imediações de Cornélio Procópio. Além disso, o motorista e todos os passageiros que estavam a bordo haviam morrido, sem exceção.

    O sangue da jovem gelou e ela sentiu uma forte tontura por uns dez segundos, até que, arrepiada começou a pensar. "Como poderia ser? Eles haviam pegado carona naquele ônibus que estava indo ao além. Será que estavam indo ao além vida? Conversamos com o motorista, respiramos aquele ar estranho borrifado a perfume de rosas, vimos as roupas brancas e os olhares para a imensidão, como se estivessem vislumbrando o nada, exceto o motorista, por assim dizer, parecia normal, mas, pensando bem, estava de roupas brancas também, porém, no momento todos acharam que era o uniforme da Garcia."

    Definitivamente, o ônibus que os havia resgatado não mais era um simples coletivo – era um mensageiro de almas, transitando entre o mundo dos vivos e o reino dos mortos, talvez em busca de companhia ou, quem sabe, de um último trajeto pela estrada que um dia fora seu destino final.

    A mesma aluna que ligou para a empresa, por vias das dúvidas, resolveu encomendar uma missa para os passageiros falecidos no acidente com o ônibus da Garcia, afinal, quem sabe não era isso que queriam em troca da gentil carona.

    Esta história permaneceu em segredo por um bom tempo, isso porque os estudantes achavam absurdo demais comentar, porém algum dia alguém resolveu revela-la ao jornal folha extra.




Este conto é uma adaptação da história "Ônibus Garcia" contido no Jornal Folha Extra, na coluna "Lendas do Interior".


segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Oração Contra o Medo, a Ansiedade e o Pânico

Oração Contra o Medo,  a Ansiedade e o Pânico  

O medo é o contrário da fé; a fé elimina o medo. 
Não mandei eu, esforce-se e seja corajoso? Disse o Senhor do universo. 
Eu creio nessa promessa e recebo essa fé. 
Senhor, aumenta essa fé em mim! 

Não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo. Josué 1:9 
Não temas, crê somente. Marcos 5:36 
Não temas, porque sou contigo. Isaías 41:10 
Não te assombres, porque sou teu Deus. Isaías 41:10 
O Espírito do Senhor é Fortaleza. 2 Timóteo 1:7 
Não temas, porque eu te remi. 
Não temas, porque eu te chamei pelo teu nome. Isaías 43:1 
Não temas e não te espantes, porque o Senhor, teu Deus, vai contigo. Deuteronômio 31:6 
Não estejas ansioso, pois Ele cuida de nós. 1 Pedro 5:7 
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize, pois Eu vos deixo a minha paz. João 14:1 
Não andeis ansiosos, pois vosso Pai supre as vossas necessidades. Mateus 6:25-27 (adaptado) 
A turbação de coração e o medo são vencidos pela crença em Deus e pela crença em Jesus. João 14:1 (adaptado) 
Tende bom ânimo; eu venci o mundo e aqueles que creem também vencerão. João 16:33 
Não temas, pequenino, porque o Pai vos deu o reino. Lucas 12:32 
Não temas, sou teu escudo e teu galardão. Gênesis 15:1 
Não temas, porque o Senhor luta por vós. Deuteronômio 3:22 
Não temas, o Senhor vai adiante de ti. Deuteronômio 31:8 
Não temas o povo da terra, pois o Senhor é conosco. Números 14:19 
Não temas, porque a Palavra de Deus nos garante a vitória. 1 Reis 17:13 (inspirado) 
Não temas, porque o nosso protetor é maior do que nossos inimigos. 2 Reis 6:16 (inspirado) 
Não temas, porque o Exército dos Céus é maior do que o exército das trevas. 2 Reis 6:16 (inspirado) Não temas, porque o Senhor está com os que creem por onde quer que andares. Josué 1:9 (inspirado) Não temas a morte; se crês, não morrerás, mas passarás para a vida eterna, assim como Cristo passou da morte para a vida. 
Não temas, mas esforça-te; não te espantes, mas tem bom ânimo. 1 Crônicas 22:13 
Não temais a grande multidão, pois é Deus quem luta por vós. 2 Crônicas 20:15 
Não temas o vale da sombra da morte, pois estou contigo, diz o Senhor. Salmos 23:4 

Não temerei, pois o Senhor é minha luz. 
Não temerei, pois o Senhor é a força da minha vida. 
Não temerei, pois o Senhor é a minha salvação. Salmos 27:1
Não temerei, pois minha confiança em Ti afasta o mal. Salmos 53:6 (adaptado) 
Não temas a assombração repentina, pois o Senhor é tua esperança. Provérbios 3:25-26
Não temas a assolação dos ímpios, pois o Senhor guardará os teus pés da captura. Provérbios 3:26-27 
A Verdade dissipa o medo; Jesus é a Verdade. 
O auxílio do Senhor e a verdade da providência divina que dissipa todo o medo. Sabedoria 17:12-13 (inspirado) 
Não temas, porque eu te tomei pela mão direita e te ajudo. Isaías 41:13 
Não temas, porque o Senhor te formou desde o ventre. Isaías 44:2 
Não temas, porque eu te livro. Jeremias 1:8 
No dia em que te invoquei, disseste: Não temas! Lamentações 3:57 

Não temas diante das circunstâncias, dos cardos, espinhos e escorpiões, porque o Senhor derruba todos os obstáculos. 
Não derrubou Ele os muros de Jericó? 
Não abriu Ele o mar Vermelho? 
Não fez brotar da pedra água e do céu deu o Maná? 
Não criou a luz do nada e o homem do barro? 
Não fez cessar a tormenta, aquietando o mar e o vento com Sua Palavra? 
Não multiplicou os peixes e alimentou a multidão? 

Então, homens e mulheres, não temais, porque o Deus que fez essas coisas é o vosso Deus e cuida de vós como a pupila dos Seus olhos. 

Não temas, porque sou o Primeiro e o Último. 
Não temas, porque fui morto e hoje vivo para sempre. 
Não temas, porque tenho a chave da morte e do inferno. Apocalipse 1:17-18 
Não temas as dificuldades; sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida eterna. Apocalipse 2:10 


Meu Deus e meu Pai, o medo e a ansiedade que sinto são sinais da imperfeição da minha fé em Ti, em Tua Palavra e em Tuas promessas. Se creio em Ti, todas as coisas são completas, pois Tua promessa nos assegura a vitória. Se creio em Ti, estou protegido, amparado, socorrido e remediado, e não há motivo para temer, pois Tuas promessas descritas nas Sagradas Escrituras garantem isso. 

Aquele que tem fé deve viver pela fé. Para alcançar essa fé perfeita em Ti, Senhor e Deus de todo o Universo, recito estas promessas e peço que Tu as alicerce em meu coração, para que o medo, a ansiedade e o pânico desapareçam como as trevas desaparecem perante a luz. 






 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Santa Tita - Primeira Santa da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América Latina

Ícone Santa Tita e as 8 Crianças

A professora Maria Aparecida Beruski, conhecida entre os Ucranianos Ortodoxos, como a "mártir de Joaquim Távora", faleceu em 1986 junto com oito crianças na escola rural do Bairro Colônia São Miguel, município de Joaquim Távora, Estado do Paraná. 

É um história de dor e sofrimento, mas também de heroísmo, coragem, de fé e de exemplo de vida.

Segundo Jesus, não há exemplo maior de amor do que doar a vida por seus irmãos.

Maria Aparecida consumou essa palavra na prática, uma vez que ao invés de tentar em primeiro lugar se salvar. Começou a retirar as crianças que pode pela janela e quando não deu mais para salvá-las, morreu abraçada com as mesmas em um ato de amor incondicional e de proteção para com seus alunos.

Em 4 de abril de 1986, na Colônia São Miguel, em Joaquim Távora, enquanto lecionava, o botijão de gás que Maria utilizava em um fogareiro para preparar a sopa para o lanche de seus treze alunos, posicionado na única porta da escola, transformou-se acidentalmente em um lança-chamas, que acabou por incendiar a sala da escola, a qual era feita de madeira. No entanto, a professora, com o fim de salvar seus alunos, se recusou a deixar o local, conseguindo assim passar as cinco crianças menores pela janela, mas as outras oito não. Maria Beruski morreu carbonizada junto dos últimos oito alunos e entre os escombros da sala foi encontrado seu corpo, abraçada com as crianças.[4] Além da professora, as vítimas fatais eram: Tereza Luiz Rosa, de 13 anos, Carlos Luiz Rosa, de 11, Amaury M. de Queiroz, 9, Lucélia Glomba, de 8 anos, Lucimeire Borandelik, 8, Salomão Bachtich, 8, Laert Luiz Rosa, 7, e Alexandra Marim[5], de 7 anos.[6] Como o desastre teve grande impacto na região, os moradores locais começaram a orar pelas vítimas e pedir sua interseção, em culto privado, criando, dessa forma, um vínculo religioso de devoção e santidade popular, sobretudo em torno de Maria Aparecida Beruski. (Wikipédia 2023)

Maria Aparecida Beruski (Santa Tita)
O relato a seguir é interessante:

"A escola era como se fosse um salão. De repente, a botija explodiu e as chamas se espalharam muito rapidamente. O calor era insuportável. Eu era um garoto muito ligeiro e consegui sair por uma pequena janela. Já do lado de fora, puxei outros colegas. Mas, infelizmente, não foram todos que conseguiram fugir'', relembra o agricultor Celso Leonel Carvalho. Na época, ele tinha 12 anos e foi a primeira das cinco crianças que conseguiram se salvar.  (Blog Universo Ucraniano)

''Ela tinha 27 anos. Era uma pessoa muito bondosa. Amava seus alunos. Já faz algum tempo, mas para nós parece que a tragédia aconteceu ontem. Minha sobrinha deu a vida por seus alunos. Vendo o prédio pegar fogo, ela preferiu ficar com as crianças, ajudando a salvar algumas, do que fugir das chamas. É uma mártir, mas agora o nosso bispo quer canonizá-la'', comenta Maria Miskalo. (Blog Universo Ucraniano)


Túmulo de Maria Beruski e seus alunos.

Início da glorificação

Após sua morte, Maria passou a ser localmente venerada como uma mártir, tanto por seu extremo exemplo de amor como pelos milagres que foram relatados em seu túmulo, em Joaquim Távora. Em 2007, Dom Jeremias Ferens relatou que sua diocese havia reunido diversos relatos de milagres em uma hagiografia, entre eles os casos de uma pessoa curada de alergia e de uma criança que tomou querosene por engano e escapou da morte, e planejava encaminhar o processo de sua glorificação junto com o das oito crianças que morreram com ela, o que faria dela a primeira santa ortodoxa latino-americana formalmente glorificada, a ser comemorada no dia 4 de abril. (Wikipédia 2023)

Pe. em visita ao sepulcro
Assim sendo, levando em consideração a devoção do povo, a Igreja Ortodoxa deu início ao seu processo canônico internamente em 2005 e, em 2007, foi concluído um dossiê de treze páginas, escrito pelo seminarista Fabio Lins, da Igreja Ortodoxa Ucraniana, e este documento enviado para o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla para o início do processo de canonização, de modo que a resposta final era prevista para demorar de um a três anos.[4][7] O dossiê contém informações coletadas entre 11 e 14 de outubro de 2005, em Joaquim Távora, sendo estas relatos de testemunhas que falam sobre a vida de Maria Aparecida, preces e anotações da mesma, além de serem apresentados nele as interseções e milagres da possível santa.[7]

O bispo local da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América do Sul, Dom Jeremias Ferens, declarou, em sua entrevista para a Revista Mundo e Missão que, dentro da Igreja Ortodoxa quem elege alguém como santo ou santa é, primeiramente, o povo, não a hierarquia eclesiástica, como vista na Igreja Católica. O eparca continua sua entrevista afirmando ainda que a população local de Joaquim Távora, que conviveu e conheceu Maria Aparecida Beruski, atesta sua vida de santidade e seu ato heroico. Sendo assim, esse foi o primeiro passo para a iniciação do processo canônico de Tita na Igreja Ortodoxa, a aclamação popular. (MELNIK 2017)

No intuito de reforçar a santificação e reconhecimento de Tita para conclusão do processo canônico, está localizado na Igreja Ortodoxa Ucraniana São Demétrio, um ícone feito pelo pintor Michel Kapelhuk, em 2004.(MELNIK 2017)

Caso queira se aprofundar mais recomento um interessante Estudo sobre o processo de canonização de Santa Tita. 

                                                                        

                                                                        Adendos


A Igreja Ortodoxa Ucraniana é uma tradição cristã com mais de mil anos de história na Ucrânia. Ela segue a liturgia e as práticas ortodoxas orientais, com uma hierarquia de bispos e paróquias organizadas em dioceses. Recebeu autocéfalia (independência) em 2018, sendo influente na identidade cultural e política do país.

Melnik 2017 afirma que Maria Aparecida Beruski está no processo de canonização pela Igreja Ortodoxa, ou seja, ainda não é santa pelas diretrizes oficiais dessa instituição. 

Não encontrei informações atualizadas sobre se o processo de canonização foi concluído ou não.

Infelizmente, segundo Melnik (2017) o dossiê do processo do processo de canonização não permite acesso público.


Referências:

https://tcconline.utp.br/media/tcc/2018/10/O-PODER-DA-RELIGIOSIDADE-POPULAR.pdf

https://ucrania-mozambique.blogspot.com/2007/10/ucraniana-primeira-santa-da-amrica.html

https://www.johnsanidopoulos.com/2018/04/maria-berushko-of-brazil-and-eight.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Aparecida_Beruski


Correio de Notícias
5/4/1986


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

As diferenças entre os "Monges" João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Agostinho

As três figuras são usualmente confundidas e fundidas na pessoa do monge João Maria. Estes homens transitaram  na região sul do Brasil entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Numa época de grande dificuldade social, e ausência de recursos, principalmente nas regiões interioranas. As pessoas procuravam a cura nos milagres, único recurso disponível a essa gente necessitada de tudo. Com a pratica comum entre eles, de  aconselhamento cristão, rezas, cura por ervas e fontes de água benta, aliados à figura eremítica que os caracterizavam, chamavam atenção onde passavam, ganhando muitos adptos ou devotos. Cada um deles contém histórias incríveis. Abaixo descreveremos resumidamente a diferença de cada um deles.

Foto tirada em Havana, Cuba em 1861



João Maria de Agostini. De origem italiana, chegou às Américas em 1838, vivendo em várias regiões do Brasil, incluindo o Rio de Janeiro, Santos, Sorocaba e Rio Grande do Sul, onde introduziu o culto a Santo Antão. Sua prisão foi decretada em 1848, forçando-o a se refugiar. Retornou à província em 1851, enfrentando conflitos devido a seu discurso contra a escravidão. Buscou passaporte para o Paraguai em 1852, sendo avisado para deixar a província em 30 dias ou enfrentaria prisão e deportação. Seu paradeiro, foi revelado por informações de dois livros. Após deixar o Brasil, passou por Paraguai, Argentina, Chile, Bolívia, Lago Titicaca, Peru e América Central, sendo preso no México em 1859. Deportado para Cuba, foi recebido com entusiasmo e tirou uma famosa foto em Havana. Viajou para Nova York, Canadá e, finalmente, para o Oeste dos EUA. Viveu como eremita no Novo México até 1867, quando se dirigiu para Mesilla, onde foi assassinado em abril de 1869 por possíveis índios Apaches em guerra contra a ocupação branca. Seu corpo está enterrado no cemitério católico de Mesilla, a 80 quilômetros da fronteira com o México. 


O segundo monge, João Maria de Jesus, apareceu no Paraná e Santa Catarina entre 1886 e 1908. Ele utilizava os mesmos métodos do primeiro monge, João Maria de Agostini, praticando curas com ervas, aconselhamento e uso de água de fontes. Acredita-se que seu verdadeiro nome seja Atanás Marcaf de origem Siria e de ascendentes gregos. Em 1897, ele afirmou: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho, percebendo claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, sem pousar na casa de outros. Vi isso claramente". Existem divergências sobre seu desaparecimento, com algumas fontes indicando cerca de 1900, enquanto outras mencionam 1907 ou 1908. A semelhança entre os dois monges era tão marcante que as pessoas os consideravam como uma única figura, afirmando que o "profeta" contava com 180 anos. Este monge tem passagem comprovada na cidade de Carlópolis, tendo uma capelinha em sua homenagem. Há relatos que também passou por Guapirama. Fica aqui a sugestão para que se faça uma pesquisa onde mais tenha passado no Norte Pioneiro do Paraná.


José Maria e suas virgens videntes.
José Maria de Jesus apareceu em 1911 em Campos Novos (SC) e, segundo alguns historiadores, era um ex-militar. De acordo com um laudo policial de Vila de Palmas, no Paraná, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena de Boaventura, um soldado desertor condenado por estupro. Ele afirmava ser irmão do primeiro monge e adotou o nome de José Maria de Santo Agostinho. Apesar de usar métodos semelhantes de cura, diferenciou-se ao organizar agrupamentos, fundando os "Quadros Santos" e os "Pares de França".  Diferentemente de outros dois monges, José Maria tinha seguidores em procissão e aceitava doações por seus conselhos e receitas. A região era cenário de disputas territoriais e, acusado de buscar a volta da monarquia, o Governo Estadual de Santa Catarina pediu intervenção, interpretada como afronta pelo Governo do Paraná. Uma força militar liderada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá invadiu o "Quadro Santo" de Irani (SC), resultando na morte em combate do monge José Maria e do coronel, marcando o fim do ciclo dos monges e o início da Guerra do Contestado.


Enfim, podemos chamar o primeiro de monge propriamente dito, o segundo de místico ou curandeiro e o terceiro de revolucionário.

Adendo:

Quadros Santos representava uma praça de formato retangular onde uma igreja estava situada, e em cada um dos quatro cantos, grandes cruzeiros marcavam pontos significativos ao redor dela. A formação dos redutos resultava na criação de uma irmandade.

Quanto aos Pares de França, constituíam uma unidade de elite, composta por vinte e quatro cavaleiros altamente equipados, montando cavalos brancos ricamente adornados. Durante os confrontos, carregavam consigo um estandarte branco ou de outra cor, destacando uma cruz no centro.



sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O homem das sete orelhas. Um retrato do massacre dos indígenas. SAP/PR



A história ou relato que descreverei narra o quadro das caçadas que eram promovidas pelos ditos "desbravadores" e colonizadores destas terras do Norte Pioneiro do Paraná contra os índios caingangues, também chamados de bugres pelos habitantes locais. Uma realidade sangrenta e cruel, até impiedosa, e que muitas vezes é omitida do conhecimento popular. Vejamos:

 O Homem das Sete Orelhas

Por volta de 1880, chegava a Santo Antônio da Platina uma família vinda de Fartura, Estado de São Paulo, para a conquista das terras adquiridas do Governo Imperial. Estabeleceram-se na atual Fazenda Santa Joana. Derrubaram a mata, plantaram e construíram suas casas.

No começo, os índios não incomodavam, mas depois começou a surgirem conflitos. 

João Francisco, um ex-escravo que morava com a família, era um homem bravo, temido por todos. Quando havia caçada aos índios, a prova da morte era trazer a orelha direita do índio morto. “As orelhas eram cortadas e colocadas num canudo de taquara.”

Conta-se que a matriarca da família certa vez estava fiando, em seu sítio, quando chegou João Francisco e despejou em seu colo os troféus nefastos. Estava grávida e com o susto que levou, abortou.

O “sete orelhas” era pessoa temida pelas crianças e adultos mais inocentes, na época antiga.

Fonte: Pioneiros e Desbravadores de Santo Antônio da Platina. Ficha preenchida por Ivone Mendes de Souza Tanko, livro Contos e Lendas Populares do Paraná.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

A CRUZ QUE BROTOU - São Jerônimo da Serra/PR


    Em meados do século XX, na zona rural do município de São Jerônimo da Serra, no local então denominado Sítio Bela Vista, hoje chamado de Sítio São Jorge; Vicente Olegário de Proença, respeitado proprietário da região, costumava celebrar novenas em devoção a São Gonçalo, no dia de comemoração do santo.
    Num gesto de profunda fé e devoção, sêo Vicente decidiu fincar uma cruz esculpida em madeira de cedro para que a comunidade local pudesse se reunir e realizar suas orações ao festejado santo.
    Com o passar do tempo, algo inesperado aconteceu: a cruz de cedro brotou e expandiu seus galhos de maneira aparentemente inexplicável. Esse fenômeno ou milagre inspirou ainda mais a devoção entre os habitantes locais.
    A cruz que brotou começou a atrair visitantes com maior frequência, de maneira que começaram a surgir relatos de pessoas que diziam ter recebido graças e milagres após terem cumprido promessas ou rezado aos pés da cruz, pedindo a intercessão de São Gonçalo a Deus.
    Com o curso dos anos, contudo, uma tempestade violenta derrubou a árvore sagrada. Porém, ao invés de deixar que aquele símbolo de fé se perdesse no tempo, a comunidade jeronimense decidiu honrar a memória da Cruz de Cedro, construindo uma gruta no local. Esse santuário se tornou um ponto de encontro para fiéis em busca de esperança, milagres e conforto espiritual, produzindo relatos de graças alcançadas até os dias atuais.
    Esse relato, adaptado por André Tressoldi, foi narrado por Jerônima Proença, antiga moradora e proprietária do local, e documentado por Marcelo Mello Costa, publicado no livro Lendas e Contos Populares do Estado do Paraná, na página 51, com o título "A cruz de Cedro".


 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Aparição do Bode de Olhos de Fogo em São José da Boa Vista

Em diversas tradições ao redor do mundo, os bodes são símbolos ambíguos, ligados a figuras mitológicas ou entidades místicas, representando desde a natureza selvagem até a fertilidade. Suas histórias folclóricas muitas vezes apresentam elementos como metamorfose, olhos luminosos e habilidades sobrenaturais. No inverno de 2012 mês de julho, uma "visagem" foi presenciada por diversos cidadãos boa-vistenses.

 Confira o relato:

Na cidade de São José da Boa Vista, envolta pelas sombras das frias madrugadas de inverno, uma criatura singular e enigmática deixou sua marca na memória dos habitantes. Entre diversos moradores sussurrava-se sobre um ser peculiar, um ser híbrido com corpo de bode e patas de cachorro.

Seus chifres imponentes cortavam o ar, emoldurando olhos misteriosos que pareciam arder em brasas, conferindo-lhe um semblante sobrenatural. Testemunhas, das mais devotas aos mais céticos, foram cativadas por essa presença inexplicável, desafiando suas convicções e despertando um fascínio entrelaçado com receio.

Como uma pintura vívida, esse ser transcendia as fronteiras entre a realidade e a fantasia, mesclando-se à névoa do folclore local. Seus passos ecoaram pelas ruas, deixando um rastro de mistério e incerteza, alimentando as conversas e provocando um encantamento tingido pela sombra do desconhecido.

A aparição desse ser enigmático, adornada por detalhes singulares e descrita por testemunhas tão diversas, fez brotar uma espécie de fascínio sobre os relatos, criando assim um capítulo pitoresco na história dessa comunidade.

Fonte: Adaptado de Lenda Urbana de SJBV por José Ricardo da Silva, no site do Município de São José da Boa Vista/PR.